Entre os dias 10 a 13 de agosto, foram oferecidas atividades gratuitas para crianças e adultos na Casa Kaê Erê, que está localizada no Museu Afro-brasileiro (MAFRO), com o objetivo de estimular a leitura e valorizar práticas de ensino oral.
A programação aconteceu durante a sétima edição da Festa Literária Internacional do Pelourinho (Flipelô).
“O projeto foi concebido em 2018 com a proposta de apresentar a literatura de matriz africana de forma acessível para o público infantil. O objetivo é promover a leitura entre as crianças, independentemente da etnia. A intenção é abordar a transversalidade cultural, levando a literatura de matriz africana a todas as crianças, não apenas aquelas de ascendência africana. Além disso, a Flipelô, de maneira geral, organiza eventos que incluem mesas redondas, discussões entre poetas e escritores direcionados ao público adulto”, conta Jane, a gerente da bibliotecas da FGM.
No último sábado (12), a programação do “Projeto Jogos Africanos Kaê Erê Caminhos da Leitura” trouxe atividades focadas na inclusão social. O objetivo é criar oportunidades para que todas as pessoas, independentemente de suas diferenças, possam participar ativamente, desenvolver seu potencial e ter acesso a recursos, serviços e direitos.
“A História da Pedra de Xangô” com Rita Pinheiro.
“Tenho uma plateia diversificada na sala: crianças, adolescentes, adultos e idosos. Além disso, alunos da Universidade Católica e pessoas acolhidas pela Unidade de Acolhimento Institucional (Uai) do bairro de Pirajá. Utilizei uma linguagem simples para que todos pudessem entender não apenas a história, mas também a divindade e o encantamento que é o Orixá e sua pedra. Essa história é um chamado para as pessoas, um convite para zelar por sua religiosidade, por seus símbolos, quaisquer que sejam. E, sobretudo, essa responsabilidade é nossa, como cidadãos de bem. Eu acredito nisso na religião, acredito que devemos ser pessoas boas, semeando bondade. Kaô kabecilê”, conclui Rita.
A capoeira de Tonho Matéria: Mestre do grupo de capoeira da Associação Cultural de Capoeira Mangangá”, ressalta que a verdadeira transformação só acontece quando estamos presentes, quando estamos por perto. Isso ecoa as palavras do mestre de capoeira René, que afirma: “Para falar certo, é preciso estar por perto”.
“Este momento na Flipelô é uma oportunidade para refletir e buscar nossa identidade. É um momento para considerar aqueles que perderam suas identidades e entender que a coletividade dos africanos no Brasil nos deixou uma série de símbolos vivos. Temos a simbologia da capoeira, do samba de roda, das Baianas de Acarajé, dos poetas, dos artesãos e até dos grandes pintores e artistas plásticos. É essencial cultivar essas expressões. Então por que está aqui, eu preciso que as minhas crianças se instrumentalizem, entendam que é preciso se modificar para poder modificar, isso é muito importante”, conta Tonho Matéria.
O “Samba de Respeito” de Ana Cacimba. Ela apresentou uma performance que contou com a participação de 25 alunos com deficiência (PCD) da Escola Vitor Soares, localizada no bairro da Ribeira. A dança e a diversão compartilhada por todas as pessoas presentes, incluindo as mães dos alunos e a vice-diretora Marta Maria Ferraz, reforçaram a importância da inclusão e integração, demonstrando o valor social da cultura popular.
“Hoje, senti muita emoção ao levar o samba do respeito para o Museu Afro, na Flipelô, a convite da Fundação Gregório de Matos, que se atentou em incluir a todes com suas diversidades. Ver os jovens com deficiência (PCD) dançando e se divertindo juntos com todas as pessoas ali presentes foi algo que realmente me arrepiou. Sonho com uma sociedade onde a inclusão e a integração de todes, independentemente de suas condições, seja algo natural. Situações como essas renovam minha esperança e reforçam o valor social da cultura popular”, confirma Ana Cacimba.
Para a vice-diretora, Marta Ferraz, convites para atividades distintas e compartilhadas com outras pessoas trazem uma alegria e um aperfeiçoamento importantes para eles. “A participação dos alunos em uma atividade lúdica é de grande importância e se torna uma realização para eles. Ao retornarem às atividades normais do dia a dia, é possível observar os sinais de participação e evolução. O tipo de aprendizado que eles demonstram é notável”, completa Marta.
LIBRAS com Eurides Nascimento. Gestora de projetos de acessibilidade com foco em tradução e interpretação em libras, trabalha com projeto pedagógico que reforça a ausência de um tradutor “É intencional, incentiva o aprendizado e a curiosidade e exploração através de atividades como a “amarelinha”. O projeto busca não apenas promover a inclusão e a compreensão da comunidade surda, mas também elevar a conscientização sobre a importância da Libras para a diversidade cultura”, afirma Eurides.
A Flipelô é um evento cultural que oferece palestras, debates, lançamentos de livros, performances artísticas, exposições e outras manifestações culturais. O evento busca envolver a comunidade, escritores, artistas e o público em geral, promovendo a troca de ideias e o enriquecimento cultural.
Marcelo Cunha, Prof. Dr. do Departamento de Museologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA, corrobora sobre a realização da Flipelô no Museu Afro-brasileiro (MAFRO).
“É extremamente importante para promover uma maior circulação no Pelourinho, sobretudo a circulação de pessoas da cidade. A Flipelô acaba sendo uma indutora de partida somente a circulação em si já um ponto importante. Considerando, por exemplo, a participação do Museu Brasileiro em parceria com a Fundação Gregório de Matos, desde quinta-feira oferecendo uma série de atividades, é de suma importância, pois enriquece ainda mais o evento.
A Flipelô vai além de ser apenas um espaço para lançamento de livros e entrevistas com autores, embora essas ações sejam extremamente interessantes. Ela também se apresenta como uma ação que reflete efetivamente o trabalho desenvolvido pela Fundação Gregório de Matos no estímulo à leitura de maneira lúdica. A ideia é conceber o livro como uma ferramenta que se conecta a outras questões culturais. Pensar no Museu como espaço também de circulação é um elemento fundamental, uma experiência que tem uma parceria extremamente importante, vida longa ao Flipelô”, finaliza Cunha.