Segundo o artigo 205 da Constituição Federal de 1988, a educação é um direito de todo cidadão brasileiro, sendo dever do Estado e da família o seu cumprimento. Entretanto, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua Educação, divulgada em julho deste ano, a taxa de analfabetos ainda representa 6,6% nos números nacionais, cerca de 11 milhões de pessoas. Este número é maior do que o pretendido pelo Plano Nacional de Educação (PNE), Lei 13.005/2014 em 2015, onde a meta era de 6,5% de analfabetos. Em 2024, essa taxa deverá chegar a zero.
De acordo com o Pnad, o estado do Rio de Janeiro possui cerca de 2,1% deste índice nacional. Para driblar esse percentual, a escritora e historiadora, Hannah Cavalcanti, criou o Poetização. O projeto possui cunho formativo, educador e mobilizador, afim de promover o incentivo à leitura, escrita e a troca de conhecimento cultural.
Pensado, inicialmente, como uma forma de unir mulheres, suas memórias e a arte-expressão, Hannah explica que seu objetivo era incentivá-las a ver o que não percebiam em seus cotidianos. “Promover a troca de vivências, despertar a criatividade, dar visibilidade para mulheres cis gênero e transexuais/travestis, enfim, fazer com que todas tivessem a atenção ativa sobre aquilo que parecia desinteressante em suas vidas”, explica a escritora.
Entretanto, com um turbilhão de ideias em sua cabeça, Hannah decidiu incluir mais vozes e experiências, criando também uma oficina para jovens e outra para qualquer pessoa que quisesse se aventurar pelo mundo da escrita. “Não adianta a gente falar só com um público. Porque eu acho que essa transformação que a sociedade precisa, que nós precisamos, ela tem que perpassar todo mundo”, afirma.
Na perspectiva de que as locuções ecoem e alcancem cada vez mais histórias, Hannah fala que seu desejo é criar impacto com a arte. “Assim como eu um dia fui impactada pela arte e pelas muitas pessoas desse meio, desejo para os outros. Que essas vozes cheguem naqueles que não são diretamente afetados com questões como racismo, homofobia e sexismo. Além de questões interiores como sexualidade, emoções e sensações”, exalta.
Com a missão de ser um incentivo para esse despertar ao mundo através das palavras, a ideia é que os materiais produzidos pelo coletivo virem uma coletânea, dando ainda mais valorização aos seus contadores. Em planos para o futuro, Hannah pretende abrir uma turma para a oficina de “Poetização para mulheres”, no formato digital, visando colocar em prática o projeto de escritas que sensibilizam o olhar ao mundo.
Contemplada pela Lei Aldir Blanc, a realização da oficina “Poetização para jovens” pretende ser realizada em algumas escolas públicas, de maneira presencial, assim que houver possibilidade.
Transformação de onde nasceu o Poetização
Desde pequena, Hannah já conservava um grande amor pelos livros e rascunhava poemas. Nascida no Rio de Janeiro, se mudou ainda nova para Belo Horizonte, onde se viu imersa em uma outra realidade. Ao longo dos anos, com os processos de escolarização, deixou de lado parte de sua sensibilidade à escrita pelo movimento intercalado entre os estudos, trabalho e tantas outras tarefas que precisava dar conta sozinha.
Pouco antes de voltar para sua cidade natal, Hannah se reconectou com suas origens e, ao ver a grande quantidade de escritos que possuía, decidiu participar de concursos literários para criar visibilidade à sua obra. Ganhando uma menção honrosa em 2015, pela Editora Kazuá, a autora não desistiu de sua publicação, que rendeu conquista em 2018 através de uma premiação pelo extinto Ministério da Cultura. Seu livro, Travessia Perene, lançado em 2019, conta sobre o processo de transição da vida da autora.
Somente a partir da publicação, Hannah se sentiu auto confiante com seus escritos, o que revolucionou sua vida. Com o intuito de levar parte de sua transformação para todos, Hannah construiu o projeto Poetização, baseada em suas impressões sobre oficinas que participava e sua vivência pessoal acerca da música, literatura e artes plásticas.