Projeto Pretas Climáticas luta contra injustiça e racismo ambiental na periferia de São Luís-MA

Projeto Pretas Climáticas, São Luís (Ma)

O Projeto Pretas Climáticas busca “enegrecer a luta contra a injustiça climática e contra o racismo”, conduzindo o tema, por um olhar de quem sofre diretamente as consequências das enchentes e desmoronamentos. Com o objetivo de lutar contra o racismo ambiental, pouco pautada nas discussões das mudanças climáticas.

As mudanças climáticas é uma temática que nos últimos anos vem ganhando audiência dentro dos meios de comunicação, veículos de imprensa e até mesmo nas discussões cotidianas da população.

A ONU classifica essas mudanças como “transformações a longo prazo nos padrões de temperatura e clima”, que podem ser causadas de forma natural, porém desde 1800 as ações humanas são a principal responsável e a queima de combustíveis fósseis como: petróleo, carvão e gás, são essenciais para o desequilíbrio climático. 

Tratando de um problema mundial, o acordo de Paris de 2015, foi uma forma de estabelecer um compromisso internacional com o tema e a elaboração de soluções palpáveis por meio de metas, a exemplo a redução global de emissão de gases de efeito estufa. 

É notório que a crise climática afeta de formas diferentes, sendo mais severas em lugares que tem ausência de infraestrutura, sem destruição de água e rede de esgoto, casas que são construídas em áreas de riscos (encostas de morro ou à beira de um rio). Condições sentidas e vividas principalmente por moradores de periferias. 

Projeto Pretas Climáticas, São Luís (Ma)

Projeto Pretas Climáticas, São Luís (Ma).

O projeto é realizado na Favela do Coroadinho, em São Luís – Maranhão, a oitava maior do Brasil (CENSO, 2022), sendo também território na linha de vulnerabilidade social que mais sofre impactos no período da chuva, no município.

Projeto Pretas Climáticas, São Luís (Ma). Foto: Arquivo Pessoal.

A assistente social, Jú do Coroadinho, referência social da comunidade, é uma mulher preta favelada, como se apresenta, fundadora do Coletivo de Mulheres Negras da Periferia e idealizadora da Casa das Pretas no Coroadinho, espaço que sedia o Projeto Pretas Climáticas.

Em entrevista concedida à Agência Nacional das Favelas, ela fala da importância de trabalhar a temática por meio do projeto.

Jú do Coroadinho, Referencia social. Foto: Jasf Andrade (2022)

Como surge o projeto?

“O projeto pretas climáticas, ele surge muito no intuito de colocar nossa narrativa, né, enquanto mulheres, pretas e faveladas, oriundas de um quilombo urbano, que é o polo Coroadinho, que vem ser a oitava maior favela do Brasil e também vem ser a maior favela do nordeste, no cenário climático, né. A gente começa a entender que a nossa comunidade, é uma comunidade que nasce às margens do Rio Bacanga, que é circuncionada pelo Rio das Bicas, que tem a maior área de preservação ambiental de São Luís. Mas que ainda assim, é uma comunidade que não tem água encanada, é uma comunidade que sofre com o desmoronamento, já perdeu pessoas, vítimas fatais, de vários morros que desmoronaram, né. É uma comunidade que fica ilhada, a gente não consegue sair de casa. Então a gente entende que, a gente necessita organizar nossa comunidade, entender tudo que a gente vem sofrendo com as injustiças climáticas e buscar soluções.” 

Qual é a importância de projetos como esse para a comunidade? 

“[…] a gente começou a entender essas desigualdades que a gente passava e começou a estudar as questões climáticas, e a gente não conseguia ver nossos rostos, a gente não conseguia ver mulheres pretas, faveladas, falando de mudanças climáticas. Era uma pauta muito embranquecida […] a gente não conseguia ver pessoas com nós falando sobre aquele assunto. A gente começa a entender que ninguém precisa falar por nós, que nós temos nossas vozes e a gente precisa se colocar nesse debate, buscar soluções. E a importância é essa. Buscar soluções climáticas para o nosso território.”

Qual foi o impacto esperado com o projeto na comunidade?

“Eu acredito que encontrar soluções climáticas para o nosso território, resolver, algumas questões, essa inclusive, é que a gente é cortado por águas e a gente não tem água encanada, que é o básico. Formar lideranças comunitárias, para que a gente possa junto, unificar nossas forças e nos organizarmos para a luta.[…] ter políticas públicas em nossa comunidade é esse o impacto que a gente espera. ”

Quais foram as atividades realizadas no projeto?

“Nós realizamos cinco módulos de formações com lideranças comunitárias da nossa comunidade. Fizemos estudo territorial. Fizemos também roda de conversa, em alguns territórios, por que a gente também mora em área de mangue. E a gente também fez o lançamento, disso tudo da comunidade entendendo, do que gerou desses cinco módulos, do que gerou as rodas de conversa, do que gerou os estudos sobre mudanças climáticas e racismo ambiental, sobre poluição.”

Projeto Pretas Climática, atividade de formação de lideranças comunitárias sendo realizada na comunidade do Coroadinho. Foto: Arquivo Pessoal.

Projeto Pretas Climáticas, São Luís (Ma). Foto: Arquivo Pessoal

Quais foram os frutos produzidos a partir do Projeto? 

“[…] surge um documentário a ‘A Favela tá no Clima’, onde nós moradores da nossa comunidade, colocamos nossa visão, né, nossa narrativa sobre as mudanças climáticas, sobre o racismo ambiental. 

Documentário do Porjeto Pretas Climáticas "Favela tá no clima" , São Luís(MA)

Documentário do Projeto Pretas Climáticas “Favela tá no clima” , São Luís(MA).

E as projeções para o futuro? 

“A gente tá construindo a carta climática do polo Coroadinho, a gente tá empenhado nisso, de entender, como a comunidade visualiza e de o que ela fala nesta carta, o impacto disso. Também continuar com as formações comunitárias, tem também a horta comunitária. […] sempre com a perspectiva de colocar nosso olhar e nossa vivência dentro de tudo isso”

O documentário pode ser encontrado no YouTube (https://www.youtube.com/watch?v=Ps2iE7t5KFM ), as futuras e antigas atividades desse projeto e de outros podem ser encontradas no perfil do Instagram Coletivo de Mulheres Negras da Periferia (@coletivo.mulheresnegras)

“O racismo ele é tão cruel, que a gente não consegue se enxergar nas pautas climáticas.” Jú do Coroadinho (2023)