Promova o que te encanta: Dias melhores

Créditos - Bruno Itan

Mesmo que seja utópico a gente acreditar que “dias melhores virão”, acreditemos.

E eles virão.

Eles vêm, nós sabemos que vêm.

Sabemos que vêm quando o que não esperávamos ou acreditamos mais nos surpreende e transforma nosso dia, nosso humor, nossa esperança, nossa vida.

Outro dia eu estava me cobrando a respeito do que fazer pelo lugar que vivo, que me viu crescer.

Quando eu era criança tive o privilégio dos meus pais terem investido em cursos, terem me colocado no ballet, terem me levado pra viajar, almoçar em restaurantes, ir ao cinema… coisas que expandiram a minha percepção e agregaram a minha cultura.

Certa vez, ainda criança – não me lembro exatamente da minha idade na época – estava na praia com a minha mãe e uma batucada começou a chamar a atenção. Ela vinha da orla e dali eu a pedi que passássemos por lá antes de ir para casa.

Ao caminharmos, já havia um aglomerado de pessoas rodeando uns meninos negros, o quais estavam com instrumentos de percussão pintados e feitos de latas de tintas. Dali eles tiravam aquele som.

Minha surpresa foi quando eu vi aqueles meninos na televisão.

Passou alguns anos e da minha casa eu ouvi novamente aquele som.

Eu fiquei em êxtase.

Quando eu fiz 15 anos, no dia da minha festa de aniversário, uma amiga, chegou com alguns rapazes e na hora perguntou se eles podiam entrar. Eram alguns dos que estavam “batendo lata” na praia, apareceram na tv e também estavam viajando ganhando o mundo com a sua arte.

Fiquei em uma sinuca de bico, por que os convites eram individuais e eu não os tinha mais.

Se eu pedisse para a minha mãe, ela diria que não tinha e argumentaria que o salão cobraria por convidados a mais.

Porém, demos um jeito e lá estavam eles. Alguns daqueles meninos, se tornaram homens e não entraram para as estatísticas que assola o nosso país. Já essa amiga que os levou para a minha festa não está mais aqui. Ela faleceu nesse ano. Sua família quase não teve o direito de enterra-la.

Eu serei sempre grata a ela por ter levado eles na minha festa de 15 anos. Naquele momento, eles pareciam aqueles artistas que a gente é fã e gostaria de conhecer de perto.

Eu conheci e soube que eu não estava conhecendo apenas aquelas pessoas que faziam aquele som e sim o projeto que estava por trás deles.

Depois desse dia, eu passei a me envolver e acompanhar projetos sociais nas favelas.

Com o passar dos anos, a cada oportunidade que eu tinha de me aproximar, de estar fazendo alguma atividade, lá estava eu.

A cada confronto, operação na favela, notícias de mortes, crescia mais em mim o desejo de fazer parte de algo que mudasse essa realidade.

E assim fui descobrindo que transformar algo, transformar o outro, é se transformar também.

Apesar dos baques que levamos na vida, seja lá por qual motivo for, dias melhores sempre virão.

Fazemos analogias as nossas vivências pessoais. Todos nós já passamos por algo que achávamos que jamais iríamos superar e superamos.

Nesse momento, temos motivos para nos abater, nos entristecer, afinal tememos por nós, pelos os nossos, pela nossa cidade, pelo nosso Estado, pelo nosso País.

Mas deixemos a utopia de que dias melhores virão prevalecer. Vamos depositar nossa energia ao que faz o nosso coração vibrar e nos cuidemos.

Temos muito o que fazer para a chegada destes dias melhores. Resistência é o nosso sobrenome.

Como diz a citação de Eduardo Galeano: “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos, e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”

Caminhemos.