A campanha do presidente Jair Bolsonaro pelo uso da cloroquina no combate à pandemia empurra os lucros de cinco fabricantes autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária a produzir o remédio. Não se sabe quanto aumentou o faturamento, mas dados do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma) mostram que o consumo de cloroquina cresceu 358% durante a pandemia no Brasil. A cloroquina, apesar disso, não é recomendada na comunidade científica brasileira e mundial.
Da última vez que propagandeou a cloroquina foi há dias, já diagnosticado positivo, quando Bolsonaro voltou a exibir uma caixinha de hidroxicloroquina durante sua live semanal, assistida por 1,6 milhão de pessoas:
“Por volta das 17 horas tomei um comprimido de cloroquina. Recomendo que você faça a mesma coisa. Sempre orientado pelo médico. É um testemunho meu: tomei e deu certo, estou muito bem. No meu caso deu certo. Não estou ganhando nada com isso. Não tenho nenhum negócio com essa empresa”, disse Bolsonaro.
Desta vez, o remédio exibido era a versão genérica produzida pela EMS, de Carlos Sanchez, também dono do laboratório Germed, outro autorizado a vender a cloroquina no país. O empresário está na lista da revista Forbes como o 16.º homem mais rico do Brasil e uma fortuna avaliada em US$ 2,5 bilhões.
Sanchez participou de duas reuniões com Bolsonaro desde o início da pandemia. A última, virtual, foi em 14 de maio. Antes, em 20 de março, o presidente já havia se reunido com ele e outros empresários, também por videoconferência, para discutir a pandemia do coronavírus. O encontro ocorreu no mesmo período em que passou a amplificar a divulgação da hidroxicloroquina em declarações e nos canais oficiais.
Outro fabricante, o empresário Ogari de Castro Pacheco teve o laboratório Cristália, do qual é cofundador, prestigiado pessoalmente pelo presidente no ano passado. Filiado ao DEM, Pacheco é segundo-suplente do líder do governo no Senado, Eduardo Gomes (MDB-TO), e eleitor de Bolsonaro.
Na ocasião, a convite de Pacheco, o presidente participou da inauguração de uma das plantas do laboratório, em 6 de agosto. Durante a cerimônia, Bolsonaro parabenizou o empresário pela “coragem de erguer” o empreendimento.
Pacheco cita, em declaração no site da empresa, o fato de a pandemia ter levado a um “crescimento sem precedente de venda de medicamentos”. Segundo o senador Eduardo Gomes, o empresário está internado com Covid-19 e fez uso do medicamento que vende.
O laboratório Aspen, do empresário Renato Spallicci, triplicou em abril a produção de Reuquinol, à base da cloroquina, aproveitando a onda criada por Bolsonaro, que exibiu em 26 de março, em encontro virtual do G-20 o seu produto. O mundo inteiro viu. Militante bolsonarista, Spallicci aproveitou para divulgar as imagens do presidente exibindo seu remédio nas redes.