Quase 98% dos consumidores de pornografia e prostituição são homens, é preciso pensar quem compra e quem é comprada e vendida.
O primeiro ponto dessa coluna é explicar que criticar a prostituição e a pornografia, não é criticar a sexualidade e sim analisar como essas práticas afetam a sociedade, principalmente as mulheres e estão intrinsicamente ligadas ao tráfico sexual e exploração sexual, misoginia, racismo e exploração sexual infantil. Dito isso, vamos aos dados nacionais sobre o tema, de acordo com o Mapa da Violência 2019, 95% dos agressores sexuais de crianças e adolescentes admitiram que consumiam algum tipo de pornografia, já entre os agressores de mulheres o índice vai para 91%, ainda segundo o Mapa 82% dos agressores sexuais não consideram errado agredir prostitutas e o tráfico humano ligado a prostituição acontece nas regiões mais pobres ( principalmente no Norte do país) com destino a países ricos. Apenas analisando esses dados fica gritante como mulheres prostituídas não são trabalhadoras comuns, uma vez que seu “trabalho” ( poderíamos dizer tranquilamente situação de escravidão) está ligado a dominação de gênero e cultura do patriarcado. Friso mais uma vez que não crítico a exploração da sexualidade, ou analiso com uma visão conservadora mas sim com o desejo que a atividade sexual seja explorada livre da dominação hierárquica e financeira.
O produto vendido tanto na pornografia quanto na prostituição é um corpo, que mesmo após o tempo de uso não pode ser separado do dono. Diferente da dominação dos patrões sobre a classe trabalhadora, onde o interesse é exclusivamente o lucro, na relação entre cliente e prostituta o único interesse é a sensação de poder cunhada por um contrato invisível que firma que a prostituta deve obedecer, pode ser xingada e humilhada, que deve fingir gostar… seu corpo fica a mercê do comprador. E são inúmeros os depoimentos de clientes que apontam armas para não pagar, que ameaçam, no caso das atrizes pornôs, inúmeros casos de jornadas de mais de 12 horas, violências e abuso de drogas. Sem contar que estamos analisando somente a relação cliente e prostituta e ainda não falamos do lucro das agências, cafetões, produtoras, bórdeis e traficantes. E também não falei de segurança nem de saúde. Estou me mantendo no por que mulheres estão virando mercadoria e por que aceitamos que homens possam ter sexo sem limites, respeito e dignidade.
Um estudo chamado Prostituição e Pornografia o os limites da escolha mostram que a porta de entrada na prostituição é geralmente a pobreza e o abuso de drogas. A autora faz uma analogia ao trabalho infantil, onde a exploração do trabalho de crianças é crime por si só mas grandes empresas se utilizam para obter lucros, quando a criança é questionada se ela queria estar ali, ela até pode dizer que não mas quando lembrada do sustento da família, ela “opta” por estar ali. Nessa lógica que as mulheres em situação de Prostituição estão em condicionamento não em escolha. Outros exemplos são mulheres em situação de violência que até querem buscar ajuda mas dependem financeiramente de seus agressores e tem medo de serem julgados pelas autoridades e sociedade por ter “aceitado ” tal situação. Quando falamos que as atrizes pornôs e as prostitutas aceitaram tal situação, estamos nos desresponsabilizando por situações de de degradação da vida humana. O que quero dizer é que o consentimento é o que menos importa numa situação que envolve violação de direitos. Porque os motivos para alguém consentir contra si próprio são imensos, mas os motivos para alguém violar os direitos de outro ser humano não.
A situação piora quando as vítimas não são mulheres brancas, pois além de receberem menos estão sujeitas a violências mais severas, menor proteção devido ao racismo institucional e fetiches .
É partir da exposição a pornografia e ao senso comum de que a prostituição é algo legal e natural que homens naturalizam mulheres como mercadorias não se importando com suas subjetividades, direitos e vontades.
E não pensem que o caminho é a regulamentação da prostituição e da pornografia pois mesmo nos países onde essas práticas são legalizadas as violências de gênero são gritantes e as mulheres infelizes. O caminho é a incorporação da idéia revolucionária de que mulheres são seres humanos e merecem ser respeitadas.