Yara Shahidi, atriz escolhida para interpretar a fada Tinker Bell- Crédito: reprodução
Yara Shahidi, atriz escolhida para interpretar a fada Tinker Bell- Foto: Reprodução

Mais uma vez a Disney foi alvo de críticas após a escolha da atriz Yara Shahidi como intérprete da fada Sininho (Tinker Bell) no live-action –  filme baseado em animação, em quadrinhos ou jogos de vídeo game, que ganham versões feitas por atrizes e atores de verdade – que adapta “Peter Pan”, de J. M. Barrie. 

Inúmeros seguidores sentiram-se incomodados e questionaram os motivos de uma nova personagem principal negra não ter sido criada, e ainda houve insinuações de que a escolha foi feita sob influência do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam).

Halle Bailey, atriz escolhida para interpretar Ariel na versão live-action de A Pequena Sereia da Disney- Foto: Reprodução

Não é a primeira vez que esse tipo de ataque contra as escolhas de atores e atrizes negras acontecem. Quando anunciado o live-action de “A Pequena Sereia” os fãs da animação ficaram eufóricos e ansiosos com a novidade, entretanto quando foi divulgado o nome da cantora Halle Bailey para interpretar a protagonista Ariel, as chuvas de críticas começaram. Motivo? Mais uma atriz negra escolhida para o papel principal, cujo na animação a personagem é uma sereia de pele clara.

Se sairmos dos contos e formos para o universo das HQs, as ofensas continuam as mesmas. Candice Patton é constantemente alvo de ataques racistas que criticam o fato dela interpretar a personagem Iris West-Allen na série The Flash, pelos mesmos motivos citados nos casos anteriores, não aceitam a ideia de uma atriz negra assumir um papel cujo nos quadrinhos ela é branca.

Candice Patton, intérprete de Iris West na série The Flash- Foto: Reprodução

Já na produção da DC Comics, quem sofreu ataques racistas foi a atriz Anna Diop, após divulgação de que ela seria a personagem Estelar de Jovens Titãs. Muitos fãs não aprovaram a mudança na cor da pele da heroína, que nos quadrinhos é uma alienígena laranja e sem etnia definida.

Os discursos iniciados com “não sou racista, longe disso” ou “porque não criam outras histórias com princesas negras ao invés de fazer substituição numa já existente”, são inúmeros e perpassam por várias escolhas em diversas produções, mas o que fica nítido é o racismo empregado em todas essas falas, até porque essas pessoas nunca se questionaram porque na grande maioria das produções todos os personagens sejam principais ou o próprio elenco ser branco.

Ana Dio, atriz da vida a personagem Estelar na série Titãs da DC Comics – Foto: Reprodução

Brancos nunca se sentiram incomodados porque sempre foram vistos de forma representativas nas telinhas até nas telonas, e para entender o porque dessas atitudes e mudanças nos cenários cinematográficos é preciso empatia e estudo, coisas que algumas pessoas brancas dificilmente ou quase nunca vão fazer para entender as lutas constantes do povo negro.

Um passeio na série Hollywood de Ryan Muphy e Ian Brennan produzida para Netflix, retrata como a terra do cinema Hollywood era e a transforma em como ela deveria ser.

A produção tem uma abordagem estratégica, questões como assédio, abuso e preconceito e é neste ponto que a produção mostra exatamente como era em anos passados, quando o roteirista negro Archie Coleman, interpretado pelo ator Jeremy Pope tem sua produção aclamada pelos diretores e donos do Estúdio Ace, mas a alegria dura pouco, pois os proprietários do estúdio ao descobrirem que a produção é feita por um negro insistem em colocar a assinatura de um branco, o que naquela época geraria grande polêmica, correndo risco de anunciar falência do estúdio.

Até porque já estavam sendo muito criticados por depois de muita insistência terem aceitado a atriz negra Camila Washington, interpretada pela atriz Laura Harrier como protagonista desse grande sucesso.

Laura Harrier, Jeremy Pope e Darren Criss, atores da Série Hollywood- Foto: NETFLIX

Produções como essas servem para trazer a público questões de extrema seriedade, mas que nem todos conseguem enxergar de forma crítica, pois se perdem nos efeitos especiais e romantismos inseridos nas produções mesmo que as vezes precisem de um toque de imaginário para contar uma história.

Outro ponto importante e imaginário inserido na série é a cerimônia do Oscar, onde o roteirista e a atriz são premiados, sendo que isso de fato só foi acontecer no século XXI, mais de 50 anos depois da cerimonia de 1948 como retratado na série.

Dando um salto temporal, chegamos a 2020 e pela primeira vez temos um príncipe negro em live-action da Disney nas salas de cinema. O filme que registrou esse momento foi Secret Society of Second Born Royals, onde o príncipe Tuma, interpretado pelo ator Niles Fitch, que entra para um programa de treinamento especial para jovens membros das famílias reais, com a missão de Salvar o mundo.

Niles Fitch interpreta o príncipe Tuma no live – action da Disney -Secret Society of Second Born Royals- Foto: Reprodução

Essa luta por representatividade não é recente, é histórica e atravessa o mundo inteiro, é sempre importante bater na tecla que é preciso estudar para entender as causas do povo preto e como já foi dito várias vezes, os negros tem que fazer por eles mesmos, continuar lutando e resistindo, porque brancos jamais vão se dedicar para começar a entender as políticas de retratação e reparação social, jamais vão querer perder o seu lugar de privilégio, mesmo que seja numa tela de cinema.