Em meio a uma pandemia, muitos trabalhadores necessitam utilizar o transporte público para trabalhar e levar o sustento para casa. Em São Paulo, os trens, metrôs e ônibus são considerados as artérias e veias da cidade, porém, distante dessa visão romântica do sistema de transporte paulistano estão as estações centrais da capital: Barra Funda, Luz e Brás. Durante cinco horas, conferi a situação dessas três estações e também dos ônibus da cidade para observar situações como: lotação, limpeza e informes sobre como proceder nas estações, trens e ônibus.
Na estação da Barra Funda, a cada 5 minutos, o alto falante informa aos usuários sobre a importância do uso da máscara e do decreto, obrigando o uso da mesma. Para reforçar a utilização do acessório, alguns trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) tem em seu primeiro vagão o desenho de uma máscara como se o mesmo estivesse a usando. José Junior, morador do Jardim Hercília, faz uso diário da Linha 3 do metrô (Corinthians/Itaquera – Palmeiras/Barra Funda) e admite não confiar na limpeza do transporte público. “Olha… eu não pego nas barras do metrô e nem encosto nas paredes, pelo menos uma vez durante as viagens eu passo álcool nas mãos”, afirmou.
Lucas Velame, morador do Chácara Santana, zona sul de São Paulo, utiliza com frequência as linhas da estação da Luz, onde foi possível identificar a limitação de oferta de lugares na Linha 11 do metrô (Luz – Estudantes). “Evito sair ao máximo de casa, mas quando é inevitável não deixo de usar máscara e álcool em gel”, disse. Na estação do Brás, a mais movimentada do sistema, foi possível ver que a já ruim oferta de lugares da Linha 11, aumentaria ainda mais a aglomeração, que já estava ocorrendo na plataforma. Do Brás segui para uma de suas integrações: a estação República, onde perto de seu acesso tinha uma estação de descontaminação isolada, porém sem ninguém incentivando o seu uso.
Para ter contato com a rede municipal de ônibus de São Paulo andei até o Terminal Bandeira, onde, com exceção da linha 6913, todas as demais linhas estavam com ônibus disponíveis e apenas com pessoas sentadas. Tal fator pode ser explicado pela utilização de 85,85% da frota de ônibus nas ruas por conta de decisão da 7ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo. A decisão afetou diretamente a população que consegue utilizar os ônibus respeitando algum distanciamento, ainda que não seja o essencial. O universitário, Caio Alexandre, utiliza constantemente os ônibus da cidade para ir até seu emprego e mesmo com mais ônibus ele não esquece a proteção. “Nunca esqueço de sair de casa com máscara e álcool em gel”, disse.
Do Terminal Bandeira, segui de ônibus até o Terminal Parque Dom Pedro II, considerado o maior da cidade. Dos ônibus que chegavam a todo momento no terminal, não encontrei equipes de manutenção que estivessem os desinfetando. Dentre todas as linhas as piores eram: 3459, destino Itaim Paulista e a linha 3686, com destino Jardim São Paulo, ambos no extremo da zona leste. Seguindo para a Estação de Transferência Itaquera, que transporta 45 mil pessoas por dia, era perceptível que as pessoas tentavam manter distância uma das outras. Outras perdiam para o cansaço encostando a cabeça na janela para dormir, correndo risco de contaminação.
Com base nas informações obtidas e vividas, questionei a Secretaria Municipal de Transportes e Mobilidade, a Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo (STM), SPTrans e a CPTM, sobre quais medidas estavam sendo tomadas quanto a limpeza dos veículos, das estações, terminais e também se é seguro o uso de veículos com ar condicionado nessas condições que a pandemia impõe. Até o momento, apenas a assessoria da SPTrans, por meio de nota, explicou as medidas tomadas pela instituição, e empresas concessionárias da rede municipal de ônibus:
“A SPTrans esclarece que o reforço na higienização dos ônibus é feito nas garagens e nos terminais municipais, inclusive com equipamento automatizado. Não há relaxamento destas medidas. Contudo, acionou a equipe de fiscalização para apurar a limpeza e higienização dos ônibus das linhas e terminais citados pela reportagem a fim de assegurar a qualidade na prestação do serviço.
Vale destacar que desde o início da quarentena, em março, a Prefeitura de São Paulo, por meio da SPTrans, adotou uma série de medidas para que motoristas, cobradores e passageiros do sistema de transporte público da capital se previnam contra o novo coronavírus causador da Covid-19. Além da limpeza mais pesada já realizada diariamente nas garagens em todos nos veículos, a higienização passou a ser feita também entre as viagens, nos terminais municipais, principalmente nos locais onde há contato mais frequente dos passageiros, como balaústres, corrimãos e assentos.
A limpeza dos ônibus municipais em parte dos terminais passou a ser feita com a utilização de um equipamento Atomizador Elétrico Portátil para evitar a contaminação pelo novo coronavírus, reduzindo o tempo comparado com a limpeza manual, que continua a ser realizada nos demais terminais municipais.
Os funcionários dos terminais municipais dispõem de álcool gel na área administrativa dos equipamentos. Os banheiros dos terminais contam com água e sabão à disposição dos passageiros para a higienização das mãos. Ações de orientação e conscientização sobre cuidados e higiene pessoal continuam sendo realizadas com todos os operadores, por meio das concessionárias, e com os passageiros, por meio de mensagens sonoras e cartazes nos terminais, redes sociais e no Jornal do Ônibus.
Os terminais municipais também passam por higienização. As ações incluem desinfecção dos equipamentos de uso comum e lavagem rigorosa das plataformas e pistas de rolamento diariamente durante a madrugada. Além disso, ao longo do dia os locais também recebem varrições, recolhimento de lixo, além de reforço na higienização e desinfecção dos equipamentos de uso comum.
Outras de medidas preventivas em relação à Covid-19 foram adotadas. Os terminais ganharam marcação no solo, para que os passageiros mantenham a distância adequada nas plataformas. A SPTrans autorizou as empresas concessionárias a isolarem seus motoristas com cortina em “L” e o uso de máscara para quem precisa se deslocar passou a ser obrigatório. Além disso, é recomendado o reforço de cuidados pessoais como lavagem das mãos a cada viagem realizada.
Quanto ao uso da máscara, ela deve ser utilizada pelas pessoas durante toda a viagem, inclusive por motoristas e cobradores. Para informar e conscientizar a população da determinação, os ônibus receberam adesivos com o aviso sobre a obrigatoriedade, que foram fixados no para-brisa e nas portas dos veículos. Em geral, os usuários do transporte coletivo têm aderido ao uso obrigatório de máscara de proteção.
Os sistemas de ar-condicionado dos ônibus devem atender à legislação, às normas e às exigências funcionais contidas nos manuais dos Padrões Técnicos de Veículos elaborados pela SPTrans. O sistema conta com dupla filtragem do ar e deve assegurar, a cada três minutos, a troca constante do ar que circula no veículo conforme previsto em norma.
Além disso, o equipamento passa por limpeza/higienização periódica, em vários componentes internos e nos seus dutos, conforme definido pelos fabricantes do equipamento. Esta limpeza é realizada com água e sabão, a cada 5 meses ou em menos tempo, a depender da intensidade do uso. Quanto aos filtros, o de retorno é substituído semanalmente, enquanto o de antipólen, em média, a cada dois meses.
Em razão da pandemia, a SPTrans orientou as empresas operadoras a intensificarem a manutenção e limpeza dos equipamentos. Os ônibus passam por vistorias da SPTrans, que também realiza diariamente inspeção amostral específica, com a desmontagem do equipamento de ar-condicionado em que se verifica o estado geral de conservação, eficiência e limpeza. Além disso, a fiscalização de campo da SPTrans verifica, diariamente, durante a operação, o estado geral de funcionamento do equipamento.
As informações de mudanças de linhas, funcionamento dos postos e recomendações podem ser acessadas no link: www.sptrans.com.br/covid-19.
Mais informações sobre os protocolos do transporte público para o enfrentamento à covid-19 estão disponíveis no link: http://sptrans.com.br/media/5584/protocolos-transporte-pu-blico.pdf?v=23062020_1510“.
Esta matéria foi produzida com apoio do Fundo de Auxílio Emergencial ao Jornalismo do Google News Initiative.