Proteção aos usuários do transporte público de São Paulo durante a pandemia

Um dos principais cartões postais da cidade, Estação da Luz - Foto: Reinaldo Verissimo

Em meio a uma pandemia, muitos trabalhadores necessitam utilizar o transporte público para trabalhar e levar o sustento para casa. Em São Paulo, os trens, metrôs e ônibus são considerados as artérias e veias da cidade, porém, distante dessa visão romântica do sistema de transporte paulistano estão as estações centrais da capital: Barra Funda, Luz e Brás. Durante cinco horas, conferi a situação dessas três estações e também dos ônibus da cidade para observar situações como: lotação, limpeza e informes sobre como proceder nas estações, trens e ônibus.

Na estação da Barra Funda, a cada 5 minutos, o alto falante informa aos usuários sobre a importância do uso da máscara e do decreto, obrigando o uso da mesma. Para reforçar a utilização do acessório, alguns trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) tem em seu primeiro vagão o desenho de uma máscara como se o mesmo estivesse a usando. José Junior, morador do Jardim Hercília, faz uso diário da Linha 3 do metrô (Corinthians/Itaquera – Palmeiras/Barra Funda) e admite não confiar na limpeza do transporte público. “Olha… eu não pego nas barras do metrô e nem encosto nas paredes, pelo menos uma vez durante as viagens eu passo álcool nas mãos”, afirmou.

Estação do Brás com aglomeração – Foto: Reinaldo Verissimo

Lucas Velame, morador do Chácara Santana, zona sul de São Paulo, utiliza com frequência as linhas da estação da Luz, onde foi possível identificar a limitação de oferta de lugares na Linha 11 do metrô (Luz – Estudantes). “Evito sair ao máximo de casa, mas quando é inevitável não deixo de usar máscara e álcool em gel”, disse. Na estação do Brás, a mais movimentada do sistema, foi possível ver que a já ruim oferta de lugares da Linha 11, aumentaria ainda mais a aglomeração, que já estava ocorrendo na plataforma. Do Brás segui para uma de suas integrações: a estação República, onde perto de seu acesso tinha uma estação de descontaminação isolada, porém sem ninguém incentivando o seu uso.

Caio Alexandre com seu álcool em gel – Foto: Arquivo Pessoal

Para ter contato com a rede municipal de ônibus de São Paulo andei até o Terminal Bandeira, onde, com exceção da linha 6913, todas as demais linhas estavam com ônibus disponíveis e apenas com pessoas sentadas. Tal fator pode ser explicado pela utilização de 85,85% da frota de ônibus nas ruas por conta de decisão da 7ª Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo. A decisão afetou diretamente a população que consegue utilizar os ônibus respeitando algum distanciamento, ainda que não seja o essencial. O universitário, Caio Alexandre, utiliza constantemente os ônibus da cidade para ir até seu emprego e mesmo com mais ônibus ele não esquece a proteção. “Nunca esqueço de sair de casa com máscara e álcool em gel”, disse.

Do Terminal Bandeira, segui de ônibus até o Terminal Parque Dom Pedro II, considerado o maior da cidade. Dos ônibus que chegavam a todo momento no terminal, não encontrei equipes de manutenção que estivessem os desinfetando. Dentre todas as linhas as piores eram: 3459, destino Itaim Paulista e a linha 3686, com destino Jardim São Paulo, ambos no extremo da zona leste. Seguindo para a Estação de Transferência Itaquera, que transporta 45 mil pessoas por dia, era perceptível que as pessoas tentavam manter distância uma das outras. Outras perdiam para o cansaço encostando a cabeça na janela para dormir, correndo risco de contaminação.

Com base nas informações obtidas e vividas, questionei a Secretaria Municipal de Transportes e Mobilidade, a Secretaria de Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo (STM), SPTrans e a CPTM, sobre quais medidas estavam sendo tomadas quanto a limpeza dos veículos, das estações, terminais e também se é seguro o uso de veículos com ar condicionado nessas condições que a pandemia impõe. Até o momento, apenas a assessoria da SPTrans, por meio de nota, explicou as medidas tomadas pela instituição, e empresas concessionárias da rede municipal de ônibus:

“A SPTrans esclarece que o reforço na higienização dos ônibus é feito nas garagens e nos terminais municipais, inclusive com equipamento automatizado. Não há relaxamento destas medidas. Contudo, acionou a equipe de fiscalização para apurar a limpeza e higienização dos ônibus das linhas e terminais citados pela reportagem a fim de assegurar a qualidade na prestação do serviço.

Vale destacar que desde o início da quarentena, em março, a Prefeitura de São Paulo, por meio da SPTrans, adotou uma série de medidas para que motoristas, cobradores e passageiros do sistema de transporte público da capital se previnam contra o novo coronavírus causador da Covid-19. Além da limpeza mais pesada já realizada diariamente nas garagens em todos nos veículos, a higienização passou a ser feita também entre as viagens, nos terminais municipais, principalmente nos locais onde há contato mais frequente dos passageiros, como balaústres, corrimãos e assentos.

A limpeza dos ônibus municipais em parte dos terminais passou a ser feita com a utilização de um equipamento Atomizador Elétrico Portátil para evitar a contaminação pelo novo coronavírus, reduzindo o tempo comparado com a limpeza manual, que continua a ser realizada nos demais terminais municipais.

Os funcionários dos terminais municipais dispõem de álcool gel na área administrativa dos equipamentos. Os banheiros dos terminais contam com água e sabão à disposição dos passageiros para a higienização das mãos. Ações de orientação e conscientização sobre cuidados e higiene pessoal continuam sendo realizadas com todos os operadores, por meio das concessionárias, e com os passageiros, por meio de mensagens sonoras e cartazes nos terminais, redes sociais e no Jornal do Ônibus.

Os terminais municipais também passam por higienização. As ações incluem desinfecção dos equipamentos de uso comum e lavagem rigorosa das plataformas e pistas de rolamento diariamente durante a madrugada. Além disso, ao longo do dia os locais também recebem varrições, recolhimento de lixo, além de reforço na higienização e desinfecção dos equipamentos de uso comum.

Outras de medidas preventivas em relação à Covid-19 foram adotadas. Os terminais ganharam marcação no solo, para que os passageiros mantenham a distância adequada nas plataformas. A SPTrans autorizou as empresas concessionárias a isolarem seus motoristas com cortina em “L” e o uso de máscara para quem precisa se deslocar passou a ser obrigatório. Além disso, é recomendado o reforço de cuidados pessoais como lavagem das mãos a cada viagem realizada.

Quanto ao uso da máscara, ela deve ser utilizada pelas pessoas durante toda a viagem, inclusive por motoristas e cobradores. Para informar e conscientizar a população da determinação, os ônibus receberam adesivos com o aviso sobre a obrigatoriedade, que foram fixados no para-brisa e nas portas dos veículos. Em geral, os usuários do transporte coletivo têm aderido ao uso obrigatório de máscara de proteção.

Os sistemas de ar-condicionado dos ônibus devem atender à legislação, às normas e às exigências funcionais contidas nos manuais dos Padrões Técnicos de Veículos elaborados pela SPTrans. O sistema conta com dupla filtragem do ar e deve assegurar, a cada três minutos, a troca constante do ar que circula no veículo conforme previsto em norma.

Além disso, o equipamento passa por limpeza/higienização periódica, em vários componentes internos e nos seus dutos, conforme definido pelos fabricantes do equipamento. Esta limpeza é realizada com água e sabão, a cada 5 meses ou em menos tempo, a depender da intensidade do uso. Quanto aos filtros, o de retorno é substituído semanalmente,  enquanto o de antipólen, em média, a cada dois meses.

Em razão da pandemia, a SPTrans orientou as empresas operadoras a intensificarem a manutenção e limpeza dos equipamentos. Os ônibus passam por vistorias da SPTrans, que também realiza diariamente inspeção amostral específica, com a desmontagem do equipamento de ar-condicionado em que se verifica o estado geral de conservação, eficiência e limpeza. Além disso, a fiscalização de campo da SPTrans verifica, diariamente, durante a operação, o estado geral de funcionamento do equipamento.

As informações de mudanças de linhas, funcionamento dos postos e recomendações podem ser acessadas no link: www.sptrans.com.br/covid-19.
Mais informações sobre os protocolos do transporte público para o enfrentamento à covid-19 estão disponíveis no link: http://sptrans.com.br/media/5584/protocolos-transporte-pu-blico.pdf?v=23062020_1510“.

Esta matéria foi produzida com apoio do Fundo de Auxílio Emergencial ao Jornalismo do Google News Initiative.