Moradores acompanharam enterro de jovem da Maré

Cerca de 300 pessoas acompanharam, nesta tarde, o sepultamento de Felipe Correia de Lima, de 17 anos, no Cemitério do Caju. O jovem, segundo moradores, foi executado ontem (14/4) por policiais com um tiro de fuzil na cabeça em frente sua casa na favela Baixa do Sapateiro, no Complexo da Maré. Durante o enterro,  familiares e amigos da vítima gritaram por justiça e, após o sepultamento, fizeram passeata na Avenida  Brasil.  Para Mayck Félix, amigo de Felipe, o que a polícia fez foi uma injustiça. “Eu conhecia ele, estudava em Bonsucesso, lá no Pedro Lessa, ele tinha acabado de pedir transferência para Escola Estadual Bahia. Lembro que domingo ele estava muito feliz, falando que tinha voltado para a namorada, que tinha arrumado um novo emprego. E aconteceu isso, foi a maior tristeza para nós, era um moleque tranqüilo, e isso que
fizeram com ele, foi a maior covardia”, fala.

O presidente da Associação de Moradores da Baixa do Sapateiro Charles Gonçalves, quis deixar claro que  Felipe era apenas um estudante. “Imagina a dor dessa mãe com a perda de seu filho. O menino teve sua carreira parada, era um adolescente cheio de sonhos, estudava, trabalhava, mas que teve a vida  interrompida. Ele foi brutalmente executado por uma polícia despreparada. Agora é tentar fazer possível para solucionar esses problemas, temos que ver meios para que isso chegue até o governador, vê se dá um basta para não haver mais inocentes mortos como Felipe”, diz Charles.

Depois do enterro, um grupo de moradores, na sua maioria jovem, decidiu protestar de forma pacífica na Avenida Brasil, sentido lha do Governador, o que não terminou nada bem, já na entrada da Rua 17 de Fevereiro, local em que Felipe foi executado, e onde se findaria a manifestação, policiais apareceram e começaram a gritar para que todos corressem. Todos correram, mas ao mesmo tempo foram atingidos por spray de pimenta e bombas. Alguns moradores caíram, outros passaram mal, e outros foram reprimidos pela
polícia, e soltos logo depois. 

São inúmeras pessoas que morrem todos os dias nas favelas do Rio de Janeiro por causa da injusta segurança pública que existe. Algo que não dá mais para suportar. Moradores durante o sepultamento e a caminhada gritavam, clamavam por justiça, direitos humanos, direitos que deveriam ser oferecidos a todos, sem separação de cor, raça e classe social. Até quando este povo terá que enterrar seus parentes,
pessoas inocentes, que querem e queriam apenas ter o seu direito de viver.
 
Gizele Martins, Renata Souza e Douglas Baptista

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