Nos últimos dias 19 e 20 de abril, Assistentes Sociais e Psicólogos que atuam no campo sociojurídico se reuniram na sede da OAB no Rio de Janeiro para o “II Encontro de Psicólogos e Assistentes Sociais: Entraves e Desafios Eticopolíticos da prática profissional” a convite de seus conselhos regionais (CRESS e CRP) para discutir as transformações no campo e seu posicionamento diante das práticas criminalizantes do Estado que a cada dia judicializam mais as questões do cotidiano reforçando o estigma da violência e do crime sobre uma parte da população que historicamente sofre discriminação.

Poderia ser apenas mais um encontro de profissionais do judiciário, do sistema sócioeducativo e do sistema prisional, mas bastou que a primeira mesa começasse para que ficasse claro o objetivo do encontro: discutir as práticas e as estratégias para uma atuação profissional que esteja em consonância com uma sociedade diferente da que temos hoje. O professor Marildo Menegat da UFRJ iniciou os trabalhos com a conferência de abertura intitulada “Justiça: a serviço de quem?” onde tratou da barbárie instaurada nos nossos dias pelas relações baseadas na exploração, na criminalização e na violação dos Direitos Humanos.

Profissionais e estudantes das duas categorias se reuniram em grupos de trabalho para discutir algumas exigências das instituições nas quais trabalham e que caracterizam um debate intenso sobre seu papel enquanto profissionais comprometidos com a transformação da realidade instaurada nas instituições estatais. Foram discutidos temas importantes como a atuação dos profissionais do judiciário nos casos envolvendo crianças, sobre o papel do exame criminológico realizado nas prisões, sobre interdição de portadores de necessidades especiais e idosos, entre outras questões.

Mas, por que abrir discussões de categorias profissionais na Agência de Notícias das Favelas? Porque muitas vezes nós negros, pobres, favelados, trabalhadores, somos os usuários das instituições onde estão estes profissionais. Quando alguém querido é preso, e precisa de assistência mas não tem porque a profissional do Serviço Social precisa atender às demandas do Ministério Público, que por sua vez não fiscaliza em favor do cidadão, mas sim do judiciário; quando uma mãe perde a guarda do seu filho porque precisou deixá-lo sozinho para procurar emprego; quando um adolescente vai parar nas unidades do Degase por ter furtado algum objeto no grande supermercado…

Além de todos os motivos, o principal motivo que me fez publicizar esse encontro é que, eu, futura Assistente Social, moradora de favelas como tantas, pobre como tantas, militante como tantas, também  sinto necessidade de expor o que vivemos atrás dos muros. Todas as violações, todas as dificuldades no trabalho cotidiano, se devem a uma lógica que nos atinge todos os dias quando não conseguimos entrar no trem lotado, quando nossas casas são removidas, quando querem nos impedir de protestar por melhores salários, quando a polícia invade nosso território e mete o pé na nossa porta sem nos render o respeito que rendem aos poderosos dessa cidade. Por todos esses acontecimentos tão distintos, frutos de uma política voltada para os interesses escusos de nossos governantes e seus amigos.

É por entender que profissionais comprometidos com a transformação dessa ordem estão sozinhos trabalhando atrás das grades e dos belos muros dos prédios do judiciário, sofrendo pressão e tendo como prática o que os poderosos determinam, e que sozinhos não conseguirão a revolução, que trago esta breve e rica notícia, que não vem diretamente das favelas, mas que dialoga diretamente com elas…

Monique Cruz.