Três moleques entram no metrô. Cada um com sua bolsinha da nike, aquela bolsinha que os camelôs costumam colocar troco.
Carregam consigo uma expressão de cansaço.
Não há lugar pra sentar, até eu estava em pé.
A voz do além anunciou a próxima estação. Sabe quando alguém mexe na bolsa e se ajeita pra levantar porque chegou sua hora de saltar?
Então, sentada ao lado de uma senhora que estava com a filha à sua frente, uma mulher fez aquela menção de que ia saltar.
Um dos rapazes da bolsinha nike sentiu a menção e se aproximou um pouco do lugar dela.
Mãe e filha se entreolharam.
O metrô parou na estação, abriu as portas.
A mulher que já ia levantar, de fato se levantou e saltou.
Eis que a senhora puxou o braço da filha e levantou correndo para o outro lado do vagão.
Atitude inteligente pra quem tenta fugir de um assalto, pois armas não costumam atingir quem se afasta cinco metros.
Mas não era um assalto, ele só queria sentar.
No final de contas, dois lugares vagaram e dois dos rapazes cansados sentaram. Só um ficou em pé.
Durante o restante da viagem a senhora fitou grande parte do tempo os rapazes com ar de raiva.
Será que era raiva de si mesma por ter sido idiota?
A bolsinha, senhora! A bolsinha! É trabalhador!
Ou será que a raiva rachando o vidro do óculos, saltando do olhar era nojo de etnia?
O mais irônico de tudo é que essa crônica até agora não tinha citado tom de pele de ninguém, mas essa história já é velha e até você já conhece…