Há muito tempo eu venho ouvindo dizer que Deus é brasileiro. Justificam sobre esta possibilidade, ao narrar que não temos vulcão, terremoto, maremoto entre outros sinistros afins. Comecei então a minha reflexão a respeito do assunto se é que merecia uma meditação. Mas fiz. Fechei os olhos e descobri que havia nascido em uma favela no ano de 1954 ( Jacarezinho ). Quando abri os mesmos olhos para vida já com seis anos de idade, percebi que ali não era o Paraíso. Meu protótipo de  casa era um simples barraco cercado de madeira e coberto de folhas de zinco, chão bruto batido e uma espécie de barraca externa, a qual chamávamos de banheiro. A situação só piorava quando a chuva chegava. As goteiras não davam chances para ficarmos secos lá dentro. Se fosse torrencial trazia consigo a desgraça. O Rio Jacaré subia e suas águas podres vinham como avalanches levando tudo que estivesse pela frente. Barracos eram arrastados, crianças passavam boiando, adultos também. Cachorros vira latas não sobreviviam mesmo sabendo nadar como ninguém. Até os gatos que tinham sete vidas acabavam por ali. Contradição! Um Deus nos acuda! Mas Deus não é Brasileiro?

Cresci vendo meus novos velhos amiguinhos se enveredando para o lado do crime. Muitos nem chegaram a completar 18 anos. Morreram ou foram presos. Minha irmã é uma dessas desgraçadas.

Em poucos anos a favela virou uma espécie de município sem ordem, sem lei, sem educação, sem saúde, sem saneamento, quase sem nada. O governo cerceou o território levando para lá os algozes capitães do mato atual – a Polícia Militar. Prisões arbitrárias, espancamentos e execuções sumárias. Virou um inferno! Mas Deus não é brasileiro?

Sumiu o Amarildo na Rocinha, morreu o jovem Alielson no Jacarezinho, arrastaram a Claudia com o camburão pelas ruas e executaram o menino no Sumaré. De repente o carro em que todos nós do Brasil e do mundo vimos pela televisão está em perfeitas condições de uso, reaparece depenado em pleno período de investigação. Coisas do Brasil! Mas Deus não é brasileiro?

Bem, fui obrigado a colocar um fim na minha tal reflexão. Não dava mais para ficar imaginando um Deus brasileiro. Fui até a Bíblia e descobri que havia um grupo étnico que espalhou ao mundo que Deus o havia escolhido como povo preferido. Um povo que invade e mata o povo local rouba o território e se transforma em Estado Legal. Foi aí que busquei a filosofia fui até a lógica para tentar criar um silogismo pensando da seguinte forma: SE DEUS É BRASILEIRO, PORQUE SERÁ QUE ELE NÃO DEU O MESMO PODER PARA O POVO DA FAVELA EXTERMINAR OS INCONVENIENTES INVASORES DO SEU TERRITÓRIO. A resposta veio rápida. Deus escolhera para outros territórios um “povão” e para o nosso, um “povinho”. Só isto pode justificar tanta passividade, quietude e silêncio.

Rumba Gabriel