Quando tentaram vender o petróleo brasileiro, lá na década de 50, eles estavam lá. Lutaram e bravamente inscreveram na história o insígnia “O Petróleo é nosso”.
Quando em 1964 golpearam a democracia no Brasil, eles resistiram. Sonharam com a utopia de um mundo sem desigualdade, livre. Deram a própria vida por seus ideais. Ocuparam as Universidades, foram tocados pelo conhecimento. Acreditaram que a rebeldia típica da juventude pode e deve ser o motor da construção do novo. Pegaram em armas.
Quando a sociedade foi às ruas em 1984 exigir eleições diretas, a juventude também o fez. Esteve lá como sempre impulsionando o movimento.
Quando em 1992 o jovem presidente “caçador de marajás” foi cassado, eles materializaram um sentimento nacional. Pintaram a cara, saíram às ruas. Voltaram a sonhar e derrubaram um presidente.
Assim a juventude brasileira existiu, lutou e transformou o país, na última metade do século passado. Neste momento que iniciamos um novo século o que tem feito e por onde tem andado a juventude?
Talvez bombardeada pela ideologia neoliberal durante os anos 1990, que estimulava a competição extremada, o individualismo e o egoísmo. Somando-se a isso a precarização das condições de vida, desemprego em massa, pauperização. Enfim, talvez a juventude tenha se alienado e se tornado rebelde sem causa.
Mas como um bom romântico, que acredita na humanidade, ainda vislumbro possibilidades neste início de século. Depois de ter dedicado muitos anos à militância, política e estudantil. O meu balanço é: Faria tudo novamente. Ainda acredito que outro mundo é possível. E também fui ao Fórum Social Mundial em Porto Alegre.
Mesmo assistindo a vulgarização da cultura através de um funk depreciativo e violento. Surge a iniciativa da APAFUNK no Rio de Janeiro, que resgata a música de raiz que canta sua realidade e que reflete enquanto dança e se diverte.
Mesmo quando a histórica União Nacional dos Estudantes, a UNE, muda suas prioridades e finge que não vê o Sarney, finge que o Lula não abraçou o Collor dois dias antes de ir ao congresso da entidade.
Mesmo que os estudantes em sua grande massa deixaram de se reunir para grandes assembléias e manifestações, mas ainda se reúnem em grandes megachopadas para beber até cair. Ainda existem os que lutam e resistem, e exemplos não faltam: a ocupação da USP e suas similares pelo Brasil. A ocupação da UnB que destronou o reitor corrupto.
A juventude no Brasil ainda tem capacidade de se movimentar e imprimir uma dinâmica na sociedade. Ela pode derrubar o símbolo do atraso. Enxotar Sarney do Senado e da vida pública é simbólico. Talvez seja o pontapé inicial de um novo momento da juventude e do movimento estudantil, sem esperar a UNE e tampouco a ANEL, que ainda carece de existir no mundo real.
Ao Kapital interessa que os jovens sejam idiotas, hiperssexualizados e bêbados. Enquanto que seus filhos se preparam para assumir a gerência do Estado. Sejamos nós conscientes!
Da juventude se espera mais uma vez o ímpeto, a disposição e o vigor na necessidade de lutar e voltar para ruas, se for o caso pintar novamente a cara (mas agora de vermelho…).
Que os jovens, saiam das periferias, das universidades, fechem as ruas e exerçam a forma que se fazem ouvidos! Chamem a atenção, queimem pneus! Organizados podem fazer qualquer coisa! Testem sua força exigindo Fora Sarney!
Matheus Thomaz
Assistente Social, ex-militante do movimento estudantil e colaborador da ANF.