Queiroz e Adriano da Nóbrega eram comparsas desde a década de 1990

Queiroz, à direita, com Eduardo e Jair Bolsonaro - Foto da internet

Trancado em Bangu ou preso à tornozeleira em prisão domiciliar, Fabrício Queiroz não sai da alça de mira do Ministério Público na investigação sobre o desvio de salário dos assessores nomeados para o gabinete do hoje senador Flávio Bolsonaro quando foi deputado estadual no Rio de Janeiro. E de muito investigar, os promotores descobriram o que pode ser seu crime mais grave: a execução de uma morador da Cidade de Deus em 2003, quando era sargento da Polícia Militar e atuava em parceria com Adriano da Nóbrega, morto na Bahia no começo do ano.

São pelo menos sete as ligações entre o ex-assessor parlamentar e o miliciano Adriano, apurou a polícia. A relação entre eles começou ainda nos anos 1990, passa por 2003, ano em que a dupla foi alvo de uma investigação de homicídio, e chega até dezembro do ano passado, quando familiares dos dois se encontraram para combinar fuga, de acordo com promotores.

Com a prisão decretada desde janeiro de 2019, capitão Adriano ficou mais de um ano foragido e, para não ser pego, contou com a rede de proteção de policiais, políticos e advogados. Um desses era Queiroz, diz a investigação, apontado operador financeiro do esquema de “rachadinhas” e nomeações fantasmas no gabinete de Flávio Bolsonaro a Assembleia Legislativa fluminense. Ele nega a acusação.

Queiroz foi nomeado para o gabinete de Flávio na Alerj em 2007. No mesmo ano, a ex-mulher do capitão Adriano, Danielle Mendonça da Nóbrega, foi contratada para trabalhar no escritório. Segundo o Ministério Público, Danielle e Raimunda Veras Magalhães, mãe do miliciano contratada em 2015, receberam R$ 1 milhão de salários da Alerj entre 2007 e 2018, supostamente sem trabalhar.

Os investigadores conseguiram rastrear pelo menos R$ 400 mil sendo “devolvidos” para Queiroz, o que configuraria a “rachadinha”. Parte desse dinheiro saiu de contas de restaurantes de Adriano da Nóbrega.

Segundo os investigadores, Adriano e Queiroz se falaram sobre nomeações de familiares e sobre as investigações e agiram, desde o início das investigações, para atrapalhar o Ministério Público e a justiça, com orientação de superiores hierárquicos e de advogados.

Como evidência, os promotores listam trocas de mensagens em que os dois orientam a ex-mulher do miliciano a faltar a depoimento no MP-RJ no início de 2019. “E ordenar que a mesma não mencionasse em conversas telefônicas crimes praticados na Alerj”, diz documento da promotoria nos autos. Por fim, em dezembro de 2019, a mulher de Queiroz se encontrou com a mãe de Nóbrega para combinar formas de escapar dos investigadores.

O advogado Paulo Emílio Catta Preta, de Brasília, que defendia capitão Adriano em um processo do Rio sobre milícia, e representou a família após a morte do miliciano, assumiu a defesa de Queiroz após a prisão do ex-assessor. Ele diz que a participação do cliente no esquema de “rachadinha” se limitaria ao fato de Queiroz ter sido assessor de Flávio na Alerj. Os promotores fizeram uma “leitura absolutamente equivocada” das movimentações financeiras, sem “suficiente suporte empírico” das transações bancárias do cliente, segundo o advogado. Flávio Bolsonaro nega todas as acusações.

Relembre o crime de 2003 na Cidade de Deus aqui