O documentário “Quem é essa mulher?”, será lançado nos dias 15 e 16 de junho, na cidade de Curitiba. Contada sobre a ótica de Mayara Santos, mulher preta da periferia de Salvador, mestra em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). A estreia faz parte das atividades na Mostra Olhar de Cinema, do Festival Internacional que acontece na cidade.
O projeto tem o protagonismo e a direção de mulheres pretas, além de traçar um paralelo entre as trajetórias de mulheres separadas por mais de um século. O filme enfatiza o protagonismo feminino negro, traçando recortes entre solidão e invisibilidade de mulheres negras na sociedade. O enredo, revela um paralelo entre vivências da historiadora e a trajetória de Maria Odília, primeira médica negra do país, nascida na cidade de São Felix do Paraguassu na Bahia.
“Para mim, este é o encontro da minha vida. Me traz muita felicidade, mesmo após todos esses anos, pois continua sendo minha prioridade. Esta jornada me presenteou tantas pessoas, lugares e sensações, que considero um verdadeiro privilégio e acredito que o filme é a melhor linguagem para compartilhá-la. Podia pôr numa praça, num telão e lá vai ter uma criança de 10 anos e uma senhora de 87, sendo tocadas por essa história de alguma forma. Esse filme é um sonho”, conta a pesquisadora Mayara Santos.
A obra é dirigida por Mariana Jaspe, cineasta soteropolitana, vencedora na categoria melhor direção no Festival de Gramado de 2023, e roteirista na adaptação “Um Defeito de Cor”, da escritora Ana Maria Gonçalves. Com a experiência de mais de 35 festivais, Mariana enfatiza a necessidade de desconstruir a população brasileira, através de trajetórias como a da primeira médica negra.
“Levar a trajetória de Maria Odília, e grandes mulheres como ela, para as telas é essencial para nossa identidade. É parte do exercício de desconstrução de uma historiografia colonizada para a construção de algo nosso, brasileiro, do nosso povo. Meu desejo é que o filme, e todas as interseções entre as vidas das nossas protagonistas, ajude a traçar um retrato complexo e profundo de personagens históricos negros, com suas diversas camadas e vivências, oferecendo à contemporaneidade novas perspectivas e possibilidades.”, explica Jaspe.
A diretora fala sobre sensibilidade no filme, permitindo que o público se conecte e aprofunde as alegrias e adversidades vivenciadas pelas protagonistas. O filme acontece em épocas diferente, com estigmas que refletem na atualidade, muito próximo da realidade no período pós escravidão, isso reforça a importância do pioneirismo das protagonistas.
“Um ponto fundamental do filme é a relação direta entre Mayara e Odília e como as vidas dessas duas mulheres, separadas por um século, se tocam e se conectam a todo momento. É uma conexão que extrapola o filme porque Mayara representa muitas outras mulheres, mulheres contemporâneas, e Odília era uma mulher à frente do seu tempo em todos os aspectos, uma figura fora do comum.”, acrescenta Mariana.
‘Quem é essa Mulher?’ revela a construção histórica do Brasil, narrando desafios e barreiras enfrentadas por mulheres negras. A produção levou três anos para ser concluída, tempo suficiente para conectar gerações. Vale salientar a importância das narrativas que compõem o enredo proposto pela produção, principalmente por revelar uma figura à frente do seu tempo, em uma época em que mulheres não eram protagonistas, que o pioneirismo desafiava barreiras, sem a perspectiva de construir um legado e mudando a história das gerações.
O roteiro do filme é de Mariana Jaspe, Muriel Alves com a colaboração de Flávia Vieira e Ricardo Gomes, que também assina a montagem. Direção de fotografia é de Fernando Marron e trilha sonora original de Fábio Stamato que conta com a canção despreconceituosamente, de Mateus Aleluia. O documentário é uma homenagem às mulheres que desafiaram as limitações impostas pela sociedade e que, através de sua coragem, abriram caminhos para as gerações futuras.
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