Na próxima terça-feira, 27, será defendida a tese de conclusão de curso de um jovem negro carioca. Pimpolho, ou Beto Lopes, é conhecido pela suas múltiplas artes, mas, principalmente, como DJ e percussionista. O também colega de ANF já participou de inúmeros eventos, grupos e companhias. É, com certeza, uma das figuras que compõem o cenário cultural do Rio. Talvez, eu não precisasse explicar logo no início do texto que se trata de um jovem negro, mas faço isso para promover a cultura do herói negro brasileiro.
Sempre que procuramos na história oficial do Brasil, aquela contada pelos vencedores, apenas encontramos heróis brancos e aristocráticos, ora representando os ideais da monarquia, ora da república. Esta última, assim que assumiu o poder, criou uma Constituição que proibia o culto do candomblé e a prática da capoeira, mesmo depois da abolição do trabalho escravo no Brasil. Não foi feito aquilo de que Joaquim Nabuco tanto falava: “Não basta acabar com a escravidão, é preciso acabar com a sua obra”.
Ainda hoje, nas mídias corporativas, é pequena a representatividade da população negra nos elencos de atores em comerciais, novelas e programas para TV e para a internet, apesar de sermos a maioria da população. Mas essa história não me representa. Por isso eu grito, parafraseando aquele velho pagode: Pimpolho é um cara bem legal! E vai defender sua tese de conclusão de curso.
Sua vitória pessoal pode refletir na vida de milhares de jovens por todo o mundo. Vemos nas redes sociais diversos exemplos de negros que romperam as barreiras pré-estabelecidas pelo sistema patriarcal brasileiro, construídos por governos conservadores que não toleram a ascensão social da população negra.
Outro herói do cotidiano que me inspira é o ator Marcos Serra, morador de Nova Iguaçu. No período em que cursava Teatro na Unirio, sempre nos encontrávamos nas tardes. Ele viajava dormindo no trem sentido Centro. Apesar de gostar de conversar com ele, eu o evitava para não atrapalhar seu descanso. Sabia que ele ainda tinha um dia cheio de estudos pela frente. Eu olhava ele e pensava: “Um dia, serei eu que vou pra faculdade”. Dito e feito.
O primeiro herói negro que conheci foi o imortal Macedo de Morais, prêmio dado pela Academia Nilopolitana de Letras por sua obra que se destaca por tratar de temas afrobrasileiros através da contação de história com teatro e poesia, que lhe rendeu outro título de griot. Conhecido como Griot Macedo de Morais, sempre me incentivou a caminhar pelos caminhos da arte e da cultura, além de levar os ensinamentos afro para centenas de crianças em todo o Estado do Rio.
Esses são apenas alguns deles, que conheci pela caminhada da minha vida e cujas histórias questão de registrar para que inspirem e empoderam outros negros e negras.
E antes que eu me esqueça: liberdade para Rafael Braga! Esse já entrou para a história.