Em um episódio alarmante ocorrido na cidade de Camaçari, Região Metropolitana de Salvador, a professora Sueli Santana, integrante da rede municipal de ensino e makota do Terreiro Lembarocy, foi vítima de agressões verbais e físicas em razão de sua fé no Candomblé. A violência, que incluiu até mesmo apedrejamento por parte de alunos, expõe de maneira cruel o racismo religioso profundamente enraizado na sociedade brasileira.

De acordo com relatos da docente, as agressões tiveram início no começo do ano letivo, quando alunos com idades entre 10 e 12 anos, da mesma família, recusaram-se a participar de aulas sobre cultura afro-brasileira — conteúdo obrigatório instituído pela Lei 10.639/2003. Entre insultos, chamaram-na de “bruxa”, “demônia” e “satanás”. Em um ato que demonstra o preconceito disseminado, uma aluna chegou a declarar que “a única coisa que os negros trouxeram para o Brasil foi a macumba e a maconha”.

Sueli Santana já formalizou denúncias junto à Polícia e ao Ministério Público, destacando que o racismo e a intolerância religiosa que enfrenta não são incidentes isolados, mas reflexos de uma estrutura social permissiva ao ódio e à discriminação.

O caso não é um fato isolado. O Brasil, país de origem mestiça e com uma das maiores populações negras do mundo, paradoxalmente convive com a perseguição sistemática às religiões de matriz africana. O racismo religioso é legitimado por omissões sociais e pelo preconceito estrutural que trata práticas e crenças afro-brasileiras como inferiores.

Apesar de legislações que buscam promover a igualdade racial e a liberdade religiosa, a realidade mostra que, na prática, as escolas — locais que deveriam ser de acolhimento e aprendizado — tornam-se espaços de exclusão.

Esse caso específico evidencia a urgência de se reforçar a educação antirracista e de promover mudanças efetivas no comportamento social. É necessário que o Estado e a sociedade se posicionem contra a permissividade de atos de racismo religioso. Ignorar tais crimes é corroborar com um sistema que oprime, desumaniza e perpetua as desigualdades.

Que a voz de Sueli Santana e de tantas outras vítimas ecoe, transformando o apedrejamento em resistência, e que o Brasil aprenda a respeitar sua própria diversidade cultural e religiosa. A luta pela liberdade de crença é uma luta por humanidade.