Rapper Theus Costa lança clipe em homenagem a Kathlen Romeu

Amigas da Kathlen Romeu confeccionam uma bandeira em homenagem à designer, para a ocasião do ato nacional do 19 de Junho, no Rio de Janeiro, pela vacina e contra todos os genocídios _ Foto: Rafael Cunha

Semana passada, na noite da quinta-feira do dia 17 de junho, se deu o lançamento do clipe “Operação Quilombo” na comunidade Vila Cabuçu e Barro Preto, local onde foi morta a modelo Kathlen Romeu, na semana anterior do dia 8. Estiveram presentes apenas familiares e amigos próximos, sobretudo devido ao mal tempo, chuvoso.

O pai da Kathlen Romeu abraça o rapper Theus Costa emocionadíssimo após a apresentação da música “Operação Quilombo”. Ao lado, a mãe da Kathlen e a avó materna.

A mãe de Kathlen, Jaqueline de Oliveira Lopes, testemunhou que um dia após a tragédia, foi procurada pelos músicos que apresentaram solidariedade à família.

“A gente está com a cabeça à mil, cheio de dor, porém a gente tem que se levantar para gritar por justiça. Qualquer canal, qualquer meio que faça ecoar o nome da minha filha, respeitar e honrar a memória dela e, acima de tudo, justiça, em punição dos culpados, em melhorias ou transformação da política pública de segurança, tudo o que eu puder fazer em nome de Kathlen de Oliveira Romeu eu vou fazer”.

Theus Costa postou-se sobre um alto degrau de um comércio local e com microfone da mão apresentou sua música tema com um leve playback ao fundo do clipe que se exibia sob um projetor.

Avô materna da Kathlen Romeu estava desamparada. À esquerda, Noeli Brandão, presidente da Associação de Moradores do Barro Vermelho e Vila Cabuçu, tenta consolá-lá.

Poucos moradores circulavam na noite fria daquela quinta-feira chuvosa, o que aguçou um ambiente de intimidade familiar presente. Theus Costa estava emocionadíssimo e abraçou a família dizendo “esta música vai a todas as pessoas, todas as famílias, só nós que somos pretos sentimos isso na pele. Eu vou representar a Kathlen Romeu em todo lugar que passar, aonde eu for, porque não é só ela. É minha família também, tá ligado?!”

THEUS COSTA fala para comunidade.

A morte da modelo Kathlen Romeu, de 24 anos, no dia 8 de junho, ocorrida na comunidade Vila Cabuçu, em Lins de Vasconcelos, zona norte do Rio de Janeiro, comoveu a todos. Além de modelo, Kathlen era designer de interiores e estava grávida de 14 semanas. Ela havia se mudado da comunidade há um pouco mais de um mês, por causa da violência. Na terça-feira 8 ela estava ocasionalmente visitando a avó materna, que ainda residia em Vila Cabuçu, quando recebeu um tiro de fuzil no tórax. Não resistiu e faleceu no hospital.

O corpo de Kathlen Romeu foi velado no dia seguinte, quarta-feira (9) à tarde, no Cemitério do Catumbi, no Centro do Rio de Janeiro. No velório, a mãe de Kathlen, Jaqueline de Oliveira Lopes, afirmou à toda imprensa presente, que foi a polícia quem atirou em sua filha: “Eu fui informada por todos que não houve troca de tiros. A polícia estava numa casa, de tocaia, numa tática conhecida como Tróia. Avistou os bandidos e atirou. Quem foi recebida a tiros não foi a Polícia, porém a minha filha. Se a minha filha fosse morta por bandido eu não falaria nada com vocês porque eu sei que eu moro em um lugar que eu não poderia falar. Então ficaria na minha. Mas não foi. Foi a polícia que matou a minha filha.”

Às 16hs um ato político em memória a Kathlen, reuniu, em frente à Light de Lins de Vasconcelos, amigos e amigas da jovem, familiares, representantes da Associação de Moradores do Barro Vermelho e Vila Cabuçu, local onde Kathlen foi baleada. Também estiveram presentes diversas organizações da sociedade, como a Frente Nacional Anti-Racista, Movimento Negro Unificado, Instituto de Defesa da População Negra, Unegro, a Coalizão Negra por Direitos e a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Uma semana depois, dia 14 de junho, realizou-se a cerimônia da Missa do Sétimo Dia no Santuário do Cristo Redentor, às 19 horas.

PELA ARTE
Uma das formas de expressar a dor e a revolta, também pode ser pela arte. Matheus Costa, conhecido como Theus Costa, 25 anos, é rapper, compositor, instrumentista e arranjador, e tem semeado há poucos anos hits que já circularam nas redes pelas vozes de Luísa Sonza, MC Zaac, Livinho, Dani Russo, MC Marcinho, entre outros. O assassinato da jovem Kathlen mexeu muito com o rapper, que há menos de dois anos tem lançado sua carreira solo de cantor.
“Quando eu vejo um ato de racismo, ou quando passo por um, como já passei por vários episódios, me sinto indignado, com sentimento de revolta também, porque a gente vive numa sociedade que as pessoas não olham umas para as outras, principalmente o Estado que não olhado para o povo da comunidade. Sobretudo para questão do racismo, deveria existir mais programas de combate ao racismo e todo tipo de preconceito com comunidades e pessoas pobres”.

Foi então que nasceu a música e o clip “Operação Quilombo”:
“Complexo do Lins, dias ruins, mais uma preta morre com bebê nas suas entranhas, bala perdida estranha pois movida a pela negra, um jovem negro apanha e a Justiça não chega, esta mentira toda ainda vai ser pega, Olhos vendados para que ninguém veja (…) Favela também tem conteúdo, porém ninguém entende nossa luta”.

Assim inicia a música num etilo “trap”, variação do rap surgida em Atlanta (EUA) nos anos 2000, caracterizado pelo uso, na gravação, de sintetizadores utilizados em música eletrônica, como o  IDM (Intelligent Dance Music). Um dos efeitos é a metalização na voz e sons eletrônicos ao fundo, com resultado mais suave, “gourmetizado”, apesar da agressividade em algumas letras.

Matheus chama a operação que matou Kathlen Romeu de “Operação Quilombo: República do Congo”, numa referência às guerras às favelas. Porém, Theus Costa também tem fé no trabalho da própria comunidade produzir sua resistência. Em outra música “O Pobre tem seu lugar”, de 2020, ele diz “A Favela venceu / O moleque saiu da boca e se formou/ Virou doutor particular do Senador / Vai ter que respeitar / O favelado chegou!”, sobre uma relativa ascensão social devido a políticas públicas de cotas e à própria disputa por espaço social do favelado na sociedade excludente.

Mais a frente a letra da música termina com “minha voz vai chegar na Câmara dos Deputados/ Vai ser o protesto dos pobres calados / Seu policial eu sou trabalhador / Eu tô cansado de ser discriminado”.

ORIGENS E PERCURSOS

Theus Costa é cria de Campos Elíseos, próximo ao Jardim Primavera, em Duque de Caxias, baixada fluminense. Filho mais velho entre seus cinco irmãos, sempre carregou a responsabilidade do primogênito. Trabalhou como pedreiro, capinagem e ajudante de transportadora de produtos. Nascido no seio de uma família evangélica praticante, desde 2014, aos 17 anos de idade, descobre sua verve musical enquanto servente da Igreja Adven, pertencente à Assembléia de Deus, no mesmo bairro em que moravam, Campos Elíseos.

Com grande versatilidade instrumentista, foi tecladista, baterista, arranjador e violonista, e teve na vertente Gospel sua primeira escola musical, dentro da Adven. Em função de uma doença fatal, Matheus Costa perde o pai em 2018, e tendo que assumir a responsabilidade com os irmãos e a família, arrisca no improvável: a música. Larga o gospel e investe no que sempre ansiou: o rap e o funk. E em pouco tempo consegue pagar suas contas graças ao retorno financeiro.

“As primeiras músicas que fiz foram funk, depois quando eu conheci meu empresário, Pierre Tavarez, com quem trabalho há 3 anos, ele me levou para São Paulo. Lá minha mente começou a abrir mais, a conhecer e a amar outros estilos, como sertanejo, o trap, o pagode”. Em três anos, Theus Costa hoje coleciona mais de 28 canções nos mais variados estilos.

O hit “Ela Vem”, do ano passado, teve mais de 132 milhões de visualizações no Youtube, pelas vozes do MC Livinho e do MC G15. Outra bem conhecida é “Toma”, cantada por MC Luísa Sonza, com mais de 75 milhões de visualizações. A música “Virgem” tem 65 milhões de visualizações e a “Bem Plena” foi lançada há apenas três meses e hoje possui 7 milhões de visualizações.

Confira abaixo alguns hits:

Gostou da matéria?

Contribuindo na nossa campanha da Benfeitoria você recebe nosso jornal mensalmente em casa e apoia no desenvolvimento dos projetos da ANF.

Basta clicar no link para saber as instruções: Benfeitoria Agência de Notícias das Favelas

Conheça nossas redes sociais:

Instagram: https://www.instagram.com/agenciadenoticiasdasfavelas/
Facebook: https://www.facebook.com/agenciadenoticiasdasfavelas
Twitter: https://twitter.com/noticiasfavelas