Desde pelo menos setembro do ano passado tornou-se público, com a publicação de uma notinha em um grande jornal, o embate entre o condomínio Equitativa e o Morro dos Prazeres que, geograficamente, parecem irmãos siameses.

O muro que separa o condomínio do morro nunca serviu para dividir ou segregar, muito pelo contrário. A convivência harmoniosa e pacífica entre seus moradores sempre foi um marco de integração, apreço e sobretudo respeito naquele espaço.

Nunca foi uma cena incomum, por exemplo, a molecada se utilizando dos espaços esportivos tanto do morro quanto da Equitativa. As festas no condomínio ou os bailes realizados no morro contaram sempre com a presença de ambos os moradores.

O Morro dos Prazeres é uma das maiores comunidades pertencentes ao bairro de Santa Teresa. A comunidade popularmente se divide em três partes:

A parte alta que faz justamente a divisa com a Equitativa chama-se Colina. A parte intermediária onde fica o Casarão da Cultura os moradores chamam de Barreira. A terceira e última parte que fica mais abaixo é conhecida como Madame e pertence à comunidade do Escondidinho.

A parte mais alta dos Prazeres possui, na sua vista, um dos cartões postais mais incríveis do Rio de Janeiro. Com uma visão panorâmica da cidade, lá de cima tem-se uma visão privilegiada de toda a enseada de Botafogo. Não por acaso, recentemente o campão de futebol da Colina foi alvo de uma grande reforma feita pela MTV para um campeonato televisionado pela emissora.

Construído lá pelos anos 50 do século passado, o condomínio Equitativa é localizado na divisa com o morro dos Prazeres e fica exatamente na parte mais alta da comunidade. A dificuldade real de acesso à Colina acabou fazendo com que os moradores dos Prazeres passassem a utilizar o caminho da Equitativa como atalho para as suas residências localizadas na parte mais alta do morro.

Essa alternativa de caminho – utilizada já há muito anos – funciona,inclusive, como único caminho de viável acesso para os caminhões que prestam diversos serviços para os moradores da Colina.

Coincidentemente ou não, desde que foi instalada a UPP no morro e consequentemente criada toda expectativa de “vantagens” imobiliárias, os desentendimentos entre o condomínio e o morro começaram a surgir ou pelo menos se tornaram públicos.

A “pacificação” do morro e a conseqüente “liberdade” do território popular tornou “livre” o acesso para os seus visitantes mas,em contrapartida, parece ter fechado as cancelas para a circulação dos pobres na valorizada área privada do condomínio. A máxima de que o morro não tem vez, se fez na separação repentina dos Prazeres – Equitativa.

Noticias de que a Equitativa estaria restringindo a passagem dos moradores dos Prazeres pelo condomínio logo começaram a circular. O clima de tensão que outrora revelava ser o oposto do que se instalara ali anunciava o desfecho lamentável.

A convivência solidária entre o condomínio e o morro se tornou intranqüila e bem distante daquilo que um dia restou na memória dos seus moradores como exemplo de integração e harmonia.

Os tentáculos da especulação imobiliária definitivamente alcançaram e espremeram com toda sua força aquela realidade até então amistosa.

Diversos problemas vieram à tona e a resposta imediata com a instalação de um portão automático controlando a entrada e a saída do condomínio funcionou como estopim.

Tudo o que poderia ter sido estabelecido com uma conversa consensual entre o condomínio e a Associação de Moradores da Comunidade transformou-se naquilo que foi visto pelo o país inteiro.

Tentativas de acordos mediados pela UPP local e a prefeitura parecem apontar a curto prazo para liberação da passagem aos moradores dos Prazeres e na autorização para a circulação de caminhões que forem prestar serviços para a Comunidade. A longo prazo especula-se a possibilidade da construção de um caminho alternativo para a Colina dentro do próprio morro.

Existem situações jurídicas que devem ser obrigatoriamente levadas em consideração, como a servidão de passagem, que garantiria, inclusive, o direito de ir e vir dos moradores dos Prazeres.

Fico na torcida para que a separação Prazeres – Equitativa não acabe com a proximidade tão saudável e necessária entre seus moradores, sobretudo em tempos de especulações imobiliária e encarecimento da cidade.

“Vista do campão na Colina”