O barulho de marteladas ecoava pelas vielas estreitas da favela Babilônia, no Jabaquara (zona sul de São Paulo). Parcialmente destruída por um incêndio no último 18 de agosto, a favela vem sendo reconstruída pelos moradores na mesma área onde 35 barracos foram queimados.

E essa reconstrução é financiada com dinheiro repassado pela própria prefeitura. O local tornou-se um canteiro de obras depois que as famílias vítimas do incêndio começaram a sacar os R$ 4.800 entregues a eles pela gestão Gilberto Kassab (PSD).

Segundo os moradores, o valor foi dado pela prefeitura como um “auxílio emergencial” para que os barracos fossem refeitos ali mesmo -em uma área de risco, localizada na beira de um córrego e no final de uma viela.

“Com esse dinheiro só dá para começar [a casa]. Mas não temos opção e aceitamos”, disse pedreiro José Martins dos Anjos, 39, que perdeu o imóvel de alvenaria de dois andares onde morava, com tudo dentro.

Funcionários da Secretaria de Habitação dizem que os recursos do cheque aluguel estão esgotados e não há previsão de quando essas famílias serão contempladas com um imóvel do município.

Por isso, a decisão dos administradores é de permitir a reconstrução dos barracos e, assim, evitar um maior inchaço dos programas de aluguel. Oficialmente, a prefeitura nega que adotou uma política de permitir que os moradores reconstruam. Diz que a verba dada aos moradores da Babilônia é para o aluguel.

“Caso [a reconstrução] ocorra, deve-se a situações específicas das favelas, como incêndios em áreas internas ou periféricas, o que dificulta um controle diário da área incendiada”, disse em nota.

A reconstrução era presenciada, sem nenhuma intervenção, por homens da Guarda Civil e da Polícia Militar e membros da Defesa Civil.No entanto, não foi isso que observou a reportagem da Folha na semana passada na favela Sônia Ribeiro (conhecida como Piolho). Em plena luz do dia, e ao lado de uma rua, moradores reconstruíam seus barracos na área destruída por um incêndio no dia 3 de setembro.

“A prefeitura não resolve o problema da habitação e as famílias acabam tendo que voltar a morar em condições precárias”, afirma Mariana Fix, pesquisadora da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP).

SEM AJUDA

Na Sônia Ribeiro, o fogo destruiu as casas de 285 famílias. Na última quarta-feira, nove dias depois da tragédia, elas ainda estavam na rua, abrigadas em estruturas de lona improvisadas nas calçadas.

Tomavam banho em um chuveiro a céu aberto que permaneceu de pé, apesar do fogo, e cozinhavam em um barracão construído às pressas por eles mesmos.

No dia anterior, a prefeitura havia oferecido o auxílio aluguel para as famílias, que ficaram de pensar na proposta. Mas o órgão desmarcou a reunião em que ouviria a resposta das famílias. Ela foi remarcada para terça-feira.

Fonte: Folha de São Paulo