O encontro do relator da ONU com a comissão de direitos humanos da ALERJ começou com um impasse. O relator queria fazer a reunião a portas fechadas, sem a presença da sociedade civil ou imprensa. Os deputados da comissão se manifestaram contra, enfatizando a importância da participação da sociedade e da imprensa, porém deixaram o relator à vontade. Philip Aslton decidiu então que a reunião poderia ser aberta.

A reunião foi presidida pelo deputado Alessandro Molon (PT) que iniciou sua fala enfatizando a importância da redução da letalidade policial e de que os órgãos periciais não sejam mais submetidos à polícia. O deputado Molon também citou o caso da favela da Coréia, quando uma emissora apresentou cenas de uma perseguição policial a dois supostos traficantes, dizendo ter sido aquele um ato de execução. Também foi citado para o relator as declarações do secretário de segurança do Rio de Janeiro que disse que “um tiro disparado na zona sul da cidade é diferente de um tiro disparado na zona norte.”

O deputado Marcelo Freixo (PSOL), vice-presidente da comissão, afirmou que “existe uma necessidade de reafirmar a militância de direitos humanos, mesmo que nos custem votos.” Outro destaque de Freixo foi também para as desastrosas declarações do governador Sérgio Cabral, que segundo o deputado, são ainda piores que de seu secretário ao afirmar que “favelas são fábricas de marginais.”

Destoando dos demais membros da comissão o deputado Flávio Bolsonaro (PP) disse que os policiais passam por muitas dificuldades e sugeriu que Philip Aslton visitasse o batalhão prisional da polícia e o BOPE, tendo ainda sugerido que o relator participasse de uma incursão do blindado da polícia, mais conhecido como caveirão, à uma favela.

Último dos cinco deputados que compõem a comissão a falar, o deputado Paulo Ramos (PDT) disse que a criminalização da pobreza norteia a política de segurança publica do estado do Rio de Janeiro. Segundo o deputado “qualquer cidadão assassinado em uma favela é classificado como traficante.” Paulo Ramos disse também que “os mandantes devem ser responsabilizados: o governador, o secretário de segurança, o comandante da PM e o chefe de policia civil.”

Após o pronunciamento dos deputados da comissão foi aberta a palavra para quatro representantes de organizações e da sociedade civil. O primeiro a falar foi o músico Marcelo Yuca que enfatizou a opção dos policiais pela profissão de risco: “o policial optou, eu não optei, a menina da favela da Coréia não optou!” Yuca lembrou aos presentes que “se o relator da ONU está aqui, não é porque a situação tá legal!” Em sua fala o músico que foi vítima da violência de nossa cidade perguntou: “Estamos em guerra ou não? Porque se não estamos, então a cena que vimos do helicóptero atirando em supostos traficantes foi de um assassinato, e até onde me consta, no Brasil não tem pena de morte!”

Outras reuniões ainda estão agendadas para Philip Aslton, incluindo uma visita ao complexo do Alemão, zona norte do Rio. Ao se pronunciar, o relator disse que jamais iria em uma incursão dentro de um blindado, como sugeriu o deputado Flávio Bolsonaro, por entender que uma incursão como essa não representaria a realidade das incursões policiais nas favelas.