Faltou luz no último REP – Ritmo E Poesia no Jacarezinho. Constrangimento para os promotores do evento. E do ponto de vista comercial, fiasco! Imagina ir numa festa em que falta luz? É dinheiro de volta na certa! E motivo de desculpa por parte dos organizadores:

– “Um comum infortúnio de favela, senhores. Foi por causa da chuva. Mas já entramos em contato com São Pedro, Santo Expedito, com a light e com o seu Benedito – do gato! Em breve estará tudo resolvido.”

Mas não foi nada disso que aconteceu! Felizmente o nosso REP passa longe das exigências comerciais convencionais! Ao invés de clientes, só amigos conscientes e munidos de sorrisos e boa vontade.

Até as 22h faltou luz, isso é um fato. Mas a noite não foi uma furada! Bola furada não é o fim da pelada com criança da favela. O som não tocou. Mas tudo isso ajudou a me tocar que o funcionamento do brinquedo é um mero detalhe. Vocês não sabem o quanto que a gente aprende com o jogo de dama com tampa de garrafa pet! Diversão mesmo é inventar a brincadeira. Se não tem figurinha, o que não falta é idéia pra trocar!

E foi isso mesmo que a gente fez das 20h às 22h no improviso das velas acesas nos botecos da praça da Concórdia!  E eu lá na neurose de achar que as pessoas podiam não estar se divertindo;  de não estar cumprindo com a expectativa do… cliente! Do cliente que mora dentro da gente.

Foi quando eu escutei o Johnny, que é rapper, dizer que recusou aparecer em uma reportagem em uma grande mídia comercial sobre as rodas de rima que organiza em diversos bairros da cidade do Rio de Janeiro. O que deu um nó na minha idéia.

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ENTREVISTA (assim como eu me lembro) COM JOHNNY, rapper e ativista social.

– “Então você não quer ser famoso, Johnny”?  Perguntei perplexa e meio incrédula.

-“Quero que mostre o movimento mas não mostre a minha cara”,  disse ele.  “Eu já sou famoso. Posso subir em qualquer favela que já sou conhecido. Tenho o reconhecimento dos colegas. Sucesso é fácil. É só fazer que nem a Geisy  Arruda, ir pra faculdade sem calcinha e pronto. Mas e daí? Eu quero aparecer sim. Mas na mídia comunitária. No site da ANF. Aparecer para a comunidade, que é o que me interessa”.

– “Mas se você virar sucesso na grande mídia vai poder alcançar um numero muito maior de pessoas.” Argumentei.

– “E você não sabe como eles são? Vão dizer que isso aqui pode, isso não pode aparecer….”

– “Mas será que não vale a pena você aceitar cortar algumas coisas para depois, que já tiver uma moral, que já for bem conhecido, daí sim poder dizer pra mais gente tudo o que você pensa?”.  Perguntei (já no último suspiro da minha lógica agonizante).

– Mas aí eu já me vendi. Não existe ex-viado. Pode até ter, mas ninguém acredita nele.

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E nesse momento eu fui iluminada! Não só pela volta da energia elétrica às 22h que trouxe o som de volta, junto com tudo a gente tinha esperado que acontecesse (Música, o Freestyle dos Rappers, Poesia…). Fui iluminada por uma outra perspectiva.

Acho que até hoje eu só tenho jogado o jogo da classe média. Aquele que depende de certas regras, um objetivo e uma vitória. Um jogo que depende do reconhecimento dos pais, da mídia, de uma validação de um juiz, ou de alguma instância fora do jogo…  A brincadeira muito séria que eu estou começando a aprender (mas que na verdade nasci sabendo e desaprendi) com os artistas e as crianças da favela, não depende de nada de fora dela.  Acontece de dentro para dentro no presente e transforma tudo, até o que se entende por  fora, pelo tempo, e por futuro. Na ausência de uma definição mais exata da escrita, expresso pela bela gíria inventada pela gente que já viveu isso: “JÁ É!”

Nesse texto, que é a brincadeira que eu inventei,  misturei palavras, idéias, acontecimentos… Para esse jogo, leitor, você está convidado. E está convidado também para o próximo REP- Ritmo e Poesia no Jacarezinho, dia 9 de Fevereiro. Esse vai ser o dia da nossa Estréia Oficial do REP, patrocinado pela Secretaria de Cultura do Estado. Por favor apareça, mas esqueça o cliente em casa.

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