“Cantor é visto aliciando menina de 14.”
Esta foi a melhor de hoje.
Faço isso há tanto tempo que não me imagino em outra vida.
Tenho mais duas para escrever à noite.
Sobre aquele deputado, cobrarei mais caro pela notícia.
Por mensagem? Faço também.
Está tudo incluso no pacote.
O preço padrão se mantém.
Aos noticiados, boa sorte.
Estão chamando diferente agora: fake news.
Em inglês dá mais audiência.
Escrevo a próxima depois de dois comprimidos
para curar meus vazios.
Nada que modifique minha competência.
Mais um CPF brasileiro some.
Só preciso de um nome.
Divertido, né?
Minha criatividade é infinita.
Quer ver o que faço com a fama daquela atriz bonita?
Vamos ao foco!
Acho engraçado que o povo não verifica e já repassa.
Já escrevi sorrindo tanto texto sobre desgraça.
Deixe-me abrir as notificações.
Mas espera um pouco, o que é isso?!
“Jornalista esconde, em sua casa, corpo de motorista.”
Não fiz isso!
A campainha não se importa em tilintar.
Lá fora, a família do homem está a me espreitar.
Realmente ele morreu, mas não fui eu.
Os barulhos começam a aumentar.
(TUM! TUM! TUM!)
A porta já não se sustenta.
(TUM!)
Por fim, cai.
Inicia a tormenta.
Sou levado para a rua, jogado no asfalto.
Um fruto amargo do meu próprio trabalho.
Tudo filmado.
A população quer ver o vexame.
Meu rosto banhado em sangue.
Linchado em praça pública.
“Justiça, justiça!”, a multidão grita.
Ironia do destino, vendo deste viés.
Sou assassinado a socos e pontapés.
Justiça-Com-As-Próprias-Mãos é o sobrenome
dos que carregam ignorância em seus pés.
Israel Sant’Anna Esteves