Representatividade, diversidade e inclusão em destaque no vocabulário brasileiro

Novos emojis. Imagem: Reprodução de internet.

A última atualização do meu aplicativo de mensagens WhatsApp me chamou a atenção e fui verificar se outros app’s também haviam recebido o mesmo tipo de atualização. Após ter confirmado, fiquei pensando como algo que parece ser tão simples faz tanta diferença na vida das pessoas, em especial daquelas que fazem parte das minorias. Então, usando o próprio WhatsApp enviei uma mensagem para uma amiga que é cadeirante e perguntei-lhe se ela já tinha visto a última atualização do aplicativo. Perguntei se já tinha visto as novas inclusões dos emojis.

Conversamos um pouco sobre a representatividade que aquelas simples figurinhas trazem para essa nova forma de nos comunicarmos, sobre o quanto é importante valorizar e respeitar a diversidade que existe em todo mundo. E mesmo tendo sido aberto um diálogo sobre o assunto, nós duas sabemos que ainda é pouco, mas essa atualização do WhatsApp nos mostra que as lutas das minorias são muito mais importante do que imaginamos.

Houve um tempo que as emissoras de TV não contratavam atores e atrizes negros para atuarem em suas novelas, e para representar algum personagem de cor negra pintavam-se os profissionais brancos. E assim foi numa novela transmitida pela Rede Globo de televisão, no ano de 1969, chamada A Cabana de Pai Tomás, em que o ator Sérgio Cardoso tinha seu corpo todo pintado de preto para interpretar o personagem principal, que era um escravo. A única atriz negra da trama era Ruth de Souza, que por sinal, no ano de 1968, foi a primeira a protagonizar uma novela, uma obra que se chamava Passo dos Ventos, e foi a primeira a concorrer a um prêmio internacional de cinema por sua atuação na novela Sinhá Moça no Festival de Veneza, no ano de 1954. Dona Ruth, como era chamada a nossa grande dama do teatro e da TV, abriu as portas para outras atrizes negras e para atores negros também, que atuam em novelas, filmes, programas humorísticos, evitando a prática racista do black face nas tramas.

A representatividade negra na TV ainda não é tão grande quanto a branca, e os papéis nas novelas ainda são muito estereotipados, pois os atores e atrizes estão quase sempre representando personagens humildes e marginalizados. Bandidos, seguranças, faxineiros, o amigo necessitado. Quase sempre o que tem para os atores negros e as atrizes negras são papéis de domésticas, a amiga muito pobre, mulher de bandido ou prostituta, reafirmando como a elite e os elitistas vêem os negros. 

E é por causa dessa pouca representatividade negra, não só na TV, mas na sociedade como um todo, que tenho prestado a atenção nas atualizações dos aplicativos de relacionamento, principalmente os de mensagens. Parece bobagem cada um daqueles emojizinho ter uma cor de pele, mas isso é importante, representa muito. O ser humano não tem uma cor única, um tipo só de cabelo, um biotipo único. Somos variados, diversificados. E quem é que não gosta e não quer se ver representado, mesmo que seja por um emoji, em todos os setores da sociedade? Ver representada sua profissão com a cor sua pele? Estamos falando de comunicação também, e todos nós, independente da cor da pele, da etnia ou do gênero, nos comunicamos uns com os outros.

Mas, observações que fiz nos aplicativos não pararam por aí, pois a igualdade entre homens e mulheres, pelo menos ali é bastante respeitada. Os emojis representam diversas profissões e todas são representadas por homens e também por mulheres, o que deixa bem claro que profissão não tem gênero, mas, sim, um profissional que a exerce independente do sexo. Sim, ainda falta muita coisa para as mulheres serem reconhecidas profissionalmente, como reconhecidos são os homens.

Infelizmente, para elas ainda falta muito até conseguirem andar nas ruas sem serem incomodadas com cantadas constrangedoras, ou não serem mais molestadas dentro de transportes públicos por homens que acham que, pelo fato de uma mulher estar desacompanhada de um outro homem, ela pode ser incomodada, já que ela está ali, sem “dono”. Muitos homens vêem mulher como propriedade.

Falta, e como falta, muita coisa para as mulheres falarem sem serem interrompidas por homens que acham que elas só falam bobagens e que seus assuntos são irrelevantes, que não despertam interesse. Falta tanta coisa para a representatividade feminina ficar completa, e a principal delas, que emoji nenhum consegue representar, é o respeito. Respeito merecido. E não por ser mulher, mas por ser um ser humano!

Falar de representatividade é falar também de diversidade e os app’s, a cada atualização, estão se propondo a respeitar o novo modelo de sociedade, mostrando que ao mesmo tempo que somos iguais, somos também diferentes, somos únicos. Cada indivíduo tem a sua opinião, seu modo de vida, seus hábitos, seus gostos e preferências, modo de se vestir, sua religião e crença. Cada um tem uma aparência, um biotipo, diferenças que não impedem a convivência pacífica, que não impedem que haja respeito entre as pessoas, mesmo sem concordarem umas com as outras. 

Sim, tudo aquilo que é diferente do que estamos culturalmente habituados a ver – e conviver – causa uma certa estranheza, como é do ser humano, mas quando se busca informação sobre o assunto, entendemos que não nos é, necessariamente, obrigatório aceitar, mas, sim, respeitar as diferenças. E sendo assim, é possível ter um convívio harmônico além dos emojis. É preciso entender que é possível ter religiões e crenças diferentes, famílias com formações diferentes, pessoas diferentes que se relacionam e se amam de formas diferentes, que são cidadãos comuns que pagam seus impostos e suas contas como qualquer outro cidadão. E isto se chama respeito à diversidade, que é algo bem simples de se fazer.

Mas, o que me chamou mesmo a atenção para as atualizações do WhatsApp e dos outros aplicativos de mensagens, e me fez enviar uma mensagem para minha amiga Taiane, foi a inclusão de emojis cadeirantes. E porque isso me chamou tanta atenção? Me chamou atenção porque em nossas conversas sempre falamos muito sobre estes temas, e sempre presto muita atenção quando ela está em seu lugar de fala, pois, por ser uma pessoa cadeirante, tem propriedade para falar e pontuar algo que eu – e qualquer outra pessoa dita “normal” – não percebo. 

É claro que uns simples emojis não vão melhorar a vida das pessoas cadeirantes, mas chama atenção para uma outra palavra, que também vem sendo muito usada no vocabulário, mas, muito pouco na facilitação e do conforto deles. Eu me refiro à acessibilidade. Sim, os portadores de necessidades especiais também saem de casa, vão ao médico, supermercado, ao shopping, ao cinema, teatro, parques… Muitos estudam, trabalham, têm uma rotina comum, assim como os cidadãos sem necessidades especiais.

Assim como minha amiga, muitos cadeirantes, pessoas que usam muletas ou bengalas, deficientes visuais, surdas e mudas, moram em favelas, onde percebemos nitidamente a falta de acessibilidade e de inclusão. São praticamente inexistentes. Escadarias, ruas sem calçadas… imaginem só encontrar pelo menos uma única rampa pela qual possa circular uma cadeira de rodas! E quanto mais alto o ponto da favela, menos acessibilidade para essas pessoas.

Nas obras de melhorias das favelas os políticos, na ânsia de conquistar votos, simplesmente excluíram os portadores de necessidades especiais, como se eles não existissem lá dentro, ou como se os mesmos não saíssem de casa em época de eleições para votar. E entra e sai governo, eles continuam sendo ignorados pelo poder público. Percebo que muitos deles evitam sair de casa devido aos inúmeros obstáculos existentes em cada trecho das ruas, becos e vielas.

São tantas reflexões que as atualizações dos aplicativos me fizeram ter sobre estes temas, e muito também com base nos bate-papos que Taiane e eu temos de vez em quando. Ela sempre fala que como mulher negra cadeirante não se vê representada em nenhum lugar. Então, comecei a observar que, realmente, não vemos nenhuma, mas sabemos que elas existem. Dentro das favelas não as vejo circular, mas, também, com tantos obstáculos, entendo que seja praticamente impossível. Mas, na mídia, onde estão estas mulheres? Porque os autores de novelas e minisséries, os diretores de filmes, quando eles vão tratar do tema em seus roteiros, escalam apenas as brancas? Assim também como não vemos os homens negros cadeirante sendo representados, como não vemos nenhum portador de necessidades especiais negros e negras em nenhuma trama. Representatividade também vem acompanhada de inclusão, que se mistura à diversidade e à acessibilidade, que são temas muito presentes na sociedade atual.

Todos querem e devem ser representados e incluído para além de emojis de WhatsApp. A acessibilidade é direito de todos, sem exceção, e o respeito à diversidade é o que tornará uma sociedade mais justa e com uma convivência pacífica entre as pessoas reais.    

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Carla Regina
Sou estudante do último período da faculdade de Jornalismo, gosto muito de ler e de escrever. Me acho simpática, pelo menos é o que me dizem as pessoas quando me conhecem, mas creio que eu seja sim, pois adoro fazer novas amizades e conservar as antigas. Comunicativa, dinâmica e muito observadora, um tanto polêmica. Gosto muito de trabalhar em equipe, mas, dependendo da situação, a minha companhia para trabalhar também é ótima. Pois, na minha opinião, a solidão aguça a criatividade, fazendo com que a mente e os pensamentos fluam um pouco melhor. Comecei a trabalhar muito nova, ainda quando criança e já fiz muita coisa na vida, mas meu sonho sempre foi ser Jornalista e Historiadora, cheguei a ter muitas dúvidas de qual faculdade cursar primeiro, já que para mim as duas carreiras são maravilhosas. Então, resolvi entrar primeiro para o Jornalismo e no decorrer do curso percebi que cursar a faculdade de História não era só uma paixão, mas também uma necessidade para linha de jornalismo que que pretendo seguir. Como sou muito observadora e curiosa, as duas profissões têm muito a ver com minha pessoa. Amo escrever e de saber como tudo no mundo começou, até porque. tudo e todos tem um passado, tem uma história para ser contada.