Bartira Carvalhal, mulher negra, formada pela Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia - Créditos: Divulgação

Nos últimos anos, temos testemunhado uma mudança significativa no cenário empreendedor brasileiro, especialmente no que diz respeito às mulheres. O aumento da aceitação e das oportunidades para empreendedoras reflete não apenas políticas públicas, mas também um diálogo crescente nas comunidades e uma valorização cada vez maior da autoestima feminina.

Um dado notável é o aumento do empreendedorismo feminino em 2024. As mulheres agora representam 40% dos novos empreendedores no Brasil. De acordo com relatório do Sebrae, o ano pode ser promissor para empreender e ter sintonia com as tendências de mercado e os movimentos que influenciam os negócios é mais do que uma necessidade nos dias atuais; é uma estratégia essencial para empreendedores que almejam o sucesso.

Essa transformação é impulsionada pela educação empreendedora, que não só capacita individualmente as mulheres, mas também fortalece comunidades ao estimular o pensamento crítico, encorajar a exploração de oportunidades e transformar ideias em ações concretas.

Além disso, as mulheres desempenham um papel crucial na economia familiar e na comunidade em geral. Muitas vezes, são elas as principais responsáveis pelo sustento do lar, e o empreendedorismo surge como uma ferramenta para garantir sua independência financeira e autonomia. Ao se tornarem líderes em seus próprios negócios, as mulheres não apenas transformam suas próprias vidas, mas também inspiram outras mulheres a seguirem o mesmo caminho, criando um ciclo virtuoso de empoderamento e crescimento econômico.

Confira a entrevista feita pela equipe da Agência de Notícias das Favelas, com a baiana Bartira Carvalhal, mulher negra, formada pela Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia, empresária há 11 anos, palestrante reconhecida pelo Sebrae BA e Ceo da Cuisine Buffet, localizada no Matatu de Brotas, Salvador.

Como você percebe que o ambiente empreendedor no Brasil está mudando para as mulheres ao longo dos anos, especialmente em termos de aceitação e oportunidades?

O ambiente empreendedor feminino no Brasil está mudando por conta de algumas políticas públicas, mas acredito que o que interferiu mesmo nessa evolução foi o diálogo entre comunidades e a valorização do tema auto estima para mulheres e mulheres negras. Auto estima desenvolve segurança e segurança alimenta o processo para assumir posturas e participar de ambientes que colaborem com seu desenvolvimento pessoal e profissional. Hoje, muitas mulheres são as responsáveis financeiras do seu lar, mesmo que usufruindo do empreendedorismo como a segunda renda, o que possibilitou desenvolver habilidades gerenciais, que não permitem mais visualizar a subordinação dentro do ambiente de trabalho. 

Como você acredita que a educação empreendedora pode impactar positivamente a vida das mulheres, tanto individualmente quanto em termos de comunidades?

A educação, de todo modo, gera segurança para conquistar objetivos mais desafiadores. A habilidade empreendedora possui um misto de competências que estimulam mais ainda a capacidade gerencial e de pertencimento, em especial da mulher.
A educação empreendedora, além de estimular o pensamento crítico, incentiva a mulher a explorar oportunidades, assumir riscos calculados e transformar ideias em ações concretas, que é primordial para seu desenvolvimento pessoal, gerenciamento dos seus sonhos e estimular o desenvolvimento da sua comunidade. Afinal, a sua segurança e capacidade gerencial, além de estimular, propiciará ao ambiente a visão de futuro de melhoria que eventualmente não era permitida. A educação salva.

Como você equilibra sua jornada como empresária, consultora, palestrante e promotora do empreendedorismo feminino? Quais estratégias você utiliza para alcançar sucesso em todas essas áreas?

A parte principal para o desenvolvimento da minha carreira plural foi entender que não preciso e não tenho que dar conta de tudo sozinha. Nós mulheres já possuímos o estigmas de guerreiras, de conciliadoras, mas isso apenas nos adoeceu, vestindo a capa de mulher maravilha, que não somos.

O empreendedorismo e a carreira que escolhi soam como solitárias, mas a partir dos pontos abaixo, consegui conciliar a demanda para que, acima de tudo, eu pudesse usufruir dos benefícios, com saúde mental e com uma vida pessoal sem atropelos. Seguem estratégias:

1 – Terapia para entender meu papel de líder e como delegar as tarefas sem que me puna, entendendo que também sou merecedora de descanso e bem estar

2- Contratação de mulheres, em especial, que entenderiam, de verdade, as minhas “dores” e necessidades

3- Estudo constante e, periodicamente, aplico um produto de reprogramação que possui em conjunto com a Nutricionista Mayana Oliveira, +40, que visa o bem estar para ampliar a produtividade

4- Aplicação do método autoral OPA, que possui o foco em organizar, priorizar e adequar as demandas

Você mencionou a importância da inteligência emocional no mundo dos negócios. Como você acha que as mulheres podem desenvolver e aplicar essa inteligência emocional para enfrentar os desafios do empreendedorismo?

O estudo auxilia para gerar segurança e manter a estabilidade emocional, no entanto, a ambiência permite que as trocas de experiências transmitidas gerem exemplos que desenvolvam sua capacidade de gerenciar o emocional. Por isso, foi criado o EmpreHour, que é um momento especial para empreendedores enfrentarem os momentos bons e ruins e aprender sobre como sobrepor situações. Estudos e ambiências somadas permitirão que as mulheres empreendedoras avaliem melhores situações, mudanças, compreendam processos e se tornem mais colaborativas umas com as outras. 

Como você vê o papel do afroempreendedorismo feminino no cenário empreendedor brasileiro? Quais são os principais desafios e oportunidades para mulheres afrodescendentes que desejam empreender?

No Brasil, por conta do grande número de negros do país, é indiscutível a valor dirigido ao papel do afroempreendedor. Muitos deles, por subsistência, já nascem no mercado informal, empreendendo para levar o básico para suas famílias. Note como muitas pessoas se tornam vendedoras natas, com habilidades inquestionáveis. No entanto, como citei, trabalhando desde cedo, qual tempo para uma educação equilibrada, o negro teria? Quando citamos ainda no recorte feminino, onde as mulheres assumem pautas solitárias dentro de um sistema, ainda, machista, sabemos que as negras, apenas participando ativamente do PIB do Brasil, ainda enfrentam desafios imensuráveis quando se comparadas às mulheres reconhecidas como brancas. Ainda essa semana saiu a lista dos maiores influencers do Brasil, todos brancos, mesmo com a maioria da população reconhecida como negra. Como a empreendedora negra conseguiria destaque se nem ao menos a sua comunidade a permite audiências e credibilidade?
A oportunidade que nós mulheres negras temos dentro do sistema é não desistir e se unir, com sororidade para que gerações futuras possam usufruir de espaços de forma equilibrada

Pode compartilhar uma história ou exemplo de como a educação empreendedora transformou não apenas sua própria vida, mas também a vida de outras mulheres com quem você trabalhou como consultora e palestrante?

Ao todo, pós formação, tenho quase 11 anos de carreira. São inúmeras histórias, mas no final de 2023, ao participar do circuito de palestras para o Banco do Brasil, uma mulher madura me procurou para dizer que, a partir da minha palestra direcionada às mulheres, ela percebeu que a desistência dela em lutar pelos seus sonhos tinha acabado ali. A partir daquele dia, ela sabia que poderia se permitir, acima de tudo, viver feliz, empreendedor com amor e remunerando os seus sonhos. Ela deixou uma mensagem linda: nunca é tarde para recomeçar e ser feliz. Empreender é achar soluções, assumir riscos. E ela, a partir de uma palestra comigo, sentiu que era a sua vez de brilhar. 

A Bartira Carvalhal palestrante, líder, dona do seu negócio só existe porque não abaixei a cabeça para os desafios e me permitir, mesmo sem auto estima, entender que aquele lugar lá no topo também poderia ser meu.

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