Como é belo sonhar! Hoje acordei liso, leve e solto, pois tive um sonho lindo. Sonhei que andava pela orla marítima do Rio de Janeiro e que ao encontrar um poeta de pernas cruzadas num banco dizendo que “no mar estava escrita uma cidade”, não contive a alegria que borbulhava em minh’alma latinamente cretina e gritei bem alto: Perdeu, o Rio é nosso! Acabou a violência! Estamos livres, acabou a opressão!
E para minha surpresa vi que todos tinham tido o mesmo sonho. O Rio inteiro estava se transbondando de euforia porque o Estado reconquistou o espaço que havia perdido para o tráfico de drogas. Eu estava mais feliz do que criança quando ganha bala (ufa, ainda bem que não era perdida). Não podia acreditar que com a retomada do Complexo do Alemão aqueles vermes nefastos haviam fugido feito ratos pelos esgotos.
Parecia filme americano, algo de outro mundo. E para minha perplexidade não havia tido um morto sequer. Foi mesmo espetacular ver tudo aquilo ao vivo e a cores. Imaginem agora um turista genuinamente alemão ir ao Complexo, pegar um teleférico e daquele lugar paradisíaco ter uma visão noturna da cidade, sem que haja o perigo de ser surpreendido por balas traçantes. Pensei até em fazer uma homenagem a nosso governador Cabral e colocar uma estatueta dele no alto do morro, claro que com uma roupa do BOPE, e os dizeres: “Osso duro de roer”.
Fico arrepiado em saber que com a captura de todo o arsenal de guerra apreendido no Complexo do Alemão não teremos mais tiroteios nas favelas. Estou em êxtase porque poderei ir ao Rock In Rio 2011 e não verei mais ninguém cheirando e fumando um baseado sequer. Como é maravilhoso saber que não mais haverá crackolândia no Rio de Janeiro e que todos os jovens pretos e pobres das favelas terão uma vida digna porque o Estado irá prover todas as coisas, além é claro da indispensável pedogogia transformadora do “tambor pra tocar lata” e de uma mega UPP.
Por favor não me acordem nunca mais, porque esse sempre foi o sonho de um sonho que todo carioca sempre teve: viver em paz!
* Sociólogo, poeta, nascido e criado na Favela de Vigário Geral, fundador da Casa da Paz de Vigário Geral, recebedor de 4 prêmios de Direitos Humanos, primeiro exilado político da era democrática brasileira.
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