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Favela do Metrô-Mangueira, removida sem uma explicação clara. (Créditos: Tânia Rêgo / Agência Brasil)

 

77 mil: este é o número de pessoas removidas de suas casas desde 2009, ano que o Rio de Janeiro foi escolhido como cidade-sede das Olimpíadas 2016. Os dados são do Mapa Rio Jogos da Exclusão, criado pelo Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas e que lista as diversas violações de direitos humanos ocorridas na capital fluminense nos últimos sete anos, como remoções, violações das leis trabalhistas, impacto ambiental, militarização de favelas e homicídios ocasionados pelas incursões policiais.

Segundo o estudo, 22.059 famílias foram retiradas de suas casas em toda a cidade, totalizando 77.206 pessoas sem moradias. Os moradores da Favela do Metrô-Mangueira, na Zona Norte da cidade, fazem parte da estatística. A comunidade começou a ser demolida pouco antes da realização da Copa do Mundo 2014 sem que as autoridades competentes apresentassem uma justificativa oficial. A favela ficava a menos de 700m do Estádio do Maracanã, palco das cerimônias de abertura e encerramento tanto dos Jogos Olímpicos, quanto da Copa.

 

Vila Autódromo vira rua e beneficia apenas 20 famílias

Na Zona Oeste, a Vila Recreio II e a Vila Harmonia foram algumas das favelas removidas para a construção do corredor expresso Transoeste. Mas a Vila Autódromo, de onde 3.000 moradores foram desalojados, se tornou o caso mais emblemático da política de remoções do Rio. A comunidade foi removida oficialmente por estar no traçado de obras importantes, como a dragagem de um rio e a duplicação das avenidas Abelardo Bueno e Salvador Allende. Mas os atingidos acusam a Prefeitura de agir tendo em vista a proximidade da favela com o Parque Olímpico e para atender à demanda da especulação imobiliária, já que a comunidade se localizava em uma região de alto valor comercial e imobiliário.

“A preparação para as Olimpíadas do Rio de Janeiro ocorreu deixando uma cicatriz muito profunda nos cariocas. Os Jogos Olímpicos representaram uma oportunidade para o desdobramento de grandes intervenções urbanas que literalmente rasgam a cidade”, salienta a arquiteta e urbanista Diana Bogado, que vem desenvolvendo um trabalho de consciência e resistência junto aos moradores. Um exemplo deste trabalho é o Museu das Remoções, que tem entre seus objetivos a preservação da memória da comunidade e de transmitir as  relações sociocomunitárias que existiam ali antes das remoções. “O Museu das Remoções é uma ferramenta de resgate da memória em contraposição à dinâmica de esquecimento empreendida pela prática das remoções.”

Das 600 famílias que viviam na Vila Autódromo até o início de 2014, restaram apenas 20, que agora vivem em casas construídas pela Prefeitura na área da antiga vila. Os outros 97% dos moradores foram transferidos para o Parque Carioca, na Taquara, um conjunto habitacional municipal realizado com recursos do Programa Minha Casa, Minha Vida. Diana lembra com entusiasmo que, mesmo que só 3% dos moradores ainda vivam no local, a ação é resultado da resistência dos moradores, que conseguiram fazer com que a Prefeitura cedesse e, dentre as suas exigências, nomeou como Vila Autódromo a rua onde ficava a favela. “Contrariando os nomes de ruas, praças e monumentos que homenageiam homens do Estado na cidade, esta vitória representa a memória social construída da disputa,” resume a arquiteta.

 

Publicado na edição de Agosto de 2016 do Jornal A Voz da Favela.