Brother, sei que posso parecer um tresloucado ao querer achar algo punk que defina o desejo de felicidade que persegue cada ser humano, seja na solidão de um alpinista ou na atitude do jovem que viajou 3250 km de Belém do Pará até o Rio de Janeiro – com uma mochila nas costas, duzentos e cinquenta reais e um ingresso – somente para ver a diva Rihanna no Rock in Rio. Mas este é o conceito de felicidade para Anderson Moreira, vinte e um anos, um apaixonado rapaz que encontrei no gargarejo e que estava ali desde que os portões da Cidade do Rock foram abertos. E não se esqueçam que ele terá que fazer o mesmo trajeto de volta para Belém do Pará. Haja fôlego para esta tal felicidade.
Em meio ao som estrondoso deste palco iluminado de emoções, que tem o nome apropriado de “Palco Mundo”, parece que o mundo inteiro está aqui vivendo o êxtase coletivo da felicidade. Entre o acorde das guitarras e o som inigualável da bateria acho uma explicação irada: ” felicidade é eliminar o egocentrismo”, disse um mano velho, o grande filósofo do século 20, Bertrand Russel. Ainda não satisfeito, tomo um energético (claro, a felicidade tem que ter uma ajudinha, senão ela também cansa) e descubro que Julián Marías, filósofo espanhol, quebra logo a corrente e diz que a ausência da reflexão filosófica sobre o conceito da felicidade contemporânea poderia ser sintoma da infelicidade do mundo. Será?
Depois de seis dias fazendo cobertura exclusiva para a Agência de Notícias das Favelas e acompanhando o magnífico trabalho de fotógrafos, como Daniel Ramalho, que captam momentos de felicidades dos fãs do Rock & Roll, vou a campo saber o que acham algumas das mais de 85 mil pessoas que cantam o desejo de não parar ‘de sonhar, de viver, de se dar e cantar’ a tal felicidade. Então, saio em meio a multidão perguntando: “o que é felicidade?”. Recebo sorrisos e respostas diversas: do beijar na boca ao passar uma noite numa ilha deserta com Sam Smith. Uma pessoa disse que queria ter um filho do papai Mr. Catra. Outra respondeu que é ter saúde e fôlego para ir a todos os shows do Rock in Rio até 2050. Um fã queria casar com Elton John em plena Rock Street. E um roqueiro afirmou que é ter fé. Outra pessoa, mais política, disse querer ver o impeachment de todos os corruptos. E enquanto um ousado solta o verbo afirmando querer que um dia todos se declarem gays, outro disse que felicidade é ter em um mês o Rock in Rio e no outro o Carnaval, sem intervalo.
No espírito do Rock in Rio, eu diria – não como o filósofo que não sou, mas como um sociólogo vivendo as próprias contradições fazendo críticas sociais à luz da poesia – que felicidade é estar aberto para inesperados encontros e novos amores, ainda que, você esteja no meio de milhares de pessoas cantando o amor em outra língua. E isto só é possível porque o amor é a universalização da felicidade.
Como o amor é algo que não tem cor, credo e sequer som, então podemos concluir que se o amor for a fonte do desejo de cada morador da favela, a felicidade, enfim, terá seu cantinho e precisará ser regada e tratada com carinho para que a paz seja o caminho que nos leve ao bem comum.
Vamos nessa?