Foto: Daniel Ramalho
Foto: Daniel Ramalho
Foto: Daniel Ramalho
O malandro do Tales de Mileto,  que viveu entre 7 a.C. e 6 a.C., disse pra sua rede social que ser feliz é ter corpo forte e são; uma boa sorte e a alma formada. A felicidade sobre o prisma da filosofia nos remete a esse primeiro mano que, não tendo um Rock In Rio para curtir, mandou uma letra sobre este tão badalado e às vezes mal interpretado sentimento.
Outro cara também bom de assunto chamou a responsa pra si e levou a rapaziada para um novo rumo ao falar de felicidade. O filósofo Sócrates – não confundir com o ex-jogador do Corinthians – disse que não havia relação da felicidade com somente a satisfação dos desejos e as necessidades do corpo, porque o homem não é apenas corpo, mas sim alma. Para ele felicidade seria o bem da alma através da conduta justa e virtuosa.
Outro parceiro bom no desenrolo, um tal de Kant, disse que a felicidade estava no âmbito do prazer e do desejo, e não há relação com a Ética, por isso não deveria ser tema para investigação filosófica.
A parada ficou tão séria que em 1787 até os manos que escreveram a Constituição dos Estados Unidos da América mandaram um papo reto: a busca pela felicidade é  “direito do homem”. E eles – os caras que deram outra dimensão à música, ao cinema e à produção cultural, além da relação das formas de produção dos bens de consumo – estão há 228 anos tentando chegar a esta fórmula da felicidade. Para bagunçar o coreto da nossa insana busca pela tal felicidade, os manos americanos criaram este desvio de rota chamado: mundo virtual. Aí embaralhou tudo e deu ruim.
Como bem lembra o sociólogo Zigmunt Bauman, na vida contemporânea as relações humanas se encontram em estado líquido e elas se evaporam instantaneamente. Um dos sintomas mais evidentes da “sociedade líquida” em que vivemos é a intolerância da massa social diante daquilo que de alguma maneira se considera como desvio de conduta ou que destoa dos padrões vigentes. A verdade, é que no fundo queremos ver estampado no rosto do “outro” um pouco daquilo que nós mesmos somos. Tudo aquilo que se expressa como “diferente” diante de nossos olhos é imputado enfaticamente como “extravagante”. Em outras palavras: babou geral!
Foto: Daniel Ramalho
Foto: Daniel Ramalho

Brother, sei que posso parecer um tresloucado ao querer achar algo punk que defina o desejo de felicidade que persegue cada ser humano, seja na solidão de um alpinista ou na atitude do jovem que viajou 3250 km de Belém do Pará até o Rio de Janeiro – com uma mochila nas costas, duzentos e cinquenta reais e um ingresso – somente para ver a diva Rihanna no Rock in Rio. Mas este é o conceito de felicidade para Anderson Moreira, vinte e um anos, um apaixonado rapaz que encontrei no gargarejo e que estava ali desde que os portões da Cidade do Rock foram abertos. E não se esqueçam que ele terá que fazer o mesmo trajeto de volta para Belém do Pará. Haja fôlego para esta tal felicidade.

Foto: Daniel Ramalho
Foto: Daniel Ramalho

Em meio ao som estrondoso deste palco iluminado de emoções, que tem o nome apropriado de “Palco Mundo”, parece que o mundo inteiro está aqui vivendo o êxtase coletivo da felicidade. Entre o acorde das guitarras e o som inigualável da bateria acho uma explicação irada: ” felicidade é eliminar o egocentrismo”, disse um mano velho, o grande filósofo do século 20, Bertrand Russel. Ainda não satisfeito, tomo um energético (claro, a felicidade tem que ter uma ajudinha, senão ela também cansa) e descubro que Julián Marías, filósofo espanhol, quebra logo a corrente e diz que a ausência da reflexão filosófica sobre o conceito da felicidade contemporânea poderia ser sintoma da infelicidade do mundo. Será?

Foto: Daniel Ramalho
Foto: Daniel Ramalho

Depois de seis dias fazendo cobertura exclusiva para a Agência de Notícias das Favelas e acompanhando o magnífico trabalho de fotógrafos, como Daniel Ramalho, que captam momentos de felicidades dos fãs do Rock & Roll, vou a campo saber o que acham algumas das mais de 85 mil pessoas que cantam o desejo de não parar ‘de sonhar, de viver, de se dar e cantar’ a tal felicidade. Então, saio em meio a multidão perguntando: “o que é felicidade?”. Recebo sorrisos e respostas diversas: do beijar na boca ao passar uma noite numa ilha deserta com Sam Smith.  Uma pessoa disse que queria ter um filho do papai Mr. Catra. Outra respondeu que é ter saúde e fôlego para ir a todos os shows do Rock in Rio até 2050.  Um fã queria casar com Elton John em plena Rock Street. E um roqueiro afirmou que é ter fé. Outra pessoa, mais política,  disse querer ver o impeachment de todos os corruptos. E enquanto um ousado solta o verbo afirmando querer que um dia todos se declarem gays,  outro disse que felicidade é ter em um mês o Rock in Rio e no outro o Carnaval, sem intervalo.

 

 

No espírito do Rock in Rio, eu diria – não como o filósofo que não sou, mas como um sociólogo vivendo as próprias contradições fazendo críticas sociais à luz da poesia – que felicidade é estar aberto para inesperados encontros e novos amores, ainda que, você esteja no meio de milhares de pessoas cantando o amor em outra língua. E isto só é possível porque o amor é a universalização da felicidade.

 

 

Como o amor é algo que não tem cor, credo e sequer som, então podemos concluir que se o amor for a fonte do desejo de cada morador da favela, a felicidade, enfim,  terá seu cantinho e precisará ser regada e tratada com carinho para que a paz seja o caminho que nos leve ao bem comum.

 

 

Vamos nessa?