O segundo dia do I Encontro Latino-americano de Comunicação Comunitária foi aberto nesta sexta-feira com conversas sobre democratização, diversidade e luta. Três rodas simultâneas trouxeram representantes de organizações LGBT e povos tradicionais ao Solar do Jambeiro e no Museu Janete Costa de Arte Popular, em Niterói (RJ).
Na roda “Gênero, diversidade e comunidades: comunicação para o empoderamento e combate ao preconceito e à opressão”, Felipe Carvalho (Grupo Diversidade Niterói – GDV), Milagros Lorier (Coletivo El Árbol – Uruguai), Gabriele Roza (Coletivo Nuvem Negra), Letícia Brito (Cultmidia RJ / Slam das Minas) e Rafael Paredes (Maricones Cuestionándose – México) discutiram a participação de agentes de grupos e de coletivos comunitários para a comunicação das minorias e ao enfrentamento do preconceito. A conversa foi mediada por Julianne Gouveia, editora da Agência de Notícias das Favelas.
A apresentação dos grupos e coletivos foi o ponto de partida para a discussão das ideias. A troca de ideias mostrou que, unidas nas dificuldades de organizar e fincar projetos que vão na contramão da sociedade, as lutas se fundem, e que o fundamental é fazer com que elas não sejam esquecidas. “Se não nos livrarmos do preconceito, não poderemos nos conectar de maneira orgânica com outras pessoas e outras lutas, que não devem ser só de um grupo, mas sim de todos”, afirmou Milagros Lorier.
A luta pela ascendência da voz do oprimido nas universidades foi destaque no encontro. Gabriele Roza dividiu sua experiência no Coletivo Nuvem Negra na PUC-Rio, universidade mais elitizada do Rio de Janeiro, e levou para a conversa a sua luta de organizar um projeto voltado para a negritude onde o negro não tem espaço. “O coletivo tem o poder de mostrar que somos sujeitos desse conhecimento. Chegamos para incomodar e mostrar uma realidade diferente da vivida pela maioria dos estudantes ali presentes”, contou. Felipe Carvalho completou: “Os muros das universidades fazem os alunos viverem no ‘mundo de Alice'”.
Além do enfrentamento dentro das universidades, a luta pela voz em todos os ambientes sociais foi colocado em discussão. Letícia Brito levou para a conversa sua relação com Slam das Minas com a poesia de resistência pautada na vivência, no empoderamento e sem preconceitos linguísticos. “A literatura não é ampla, precisamos ouvir o povo da forma que ele fala”, completou. Estes e outros grupos oprimidos sofrem constantes ataques físicos ou mentais, e a comunicação se torna parte integrante na proteção dessas pessoas. Para todos os participantes, a luta é constante, mas também é preciso ter coragem. “Muitas vezes, as pessoas querem lutar, mas são ameaçadas, e, infelizmente, ainda não sabemos como agir nessas situações”, contou Letícia. Felipe Carvalho completou: “Se não tomar cuidado na forma de comunicação dentro das favelas, você pode morrer”.