O Carnaval oficialmente passou, e cada um viveu esse período à sua maneira, com alguma história para contar. Tive a felicidade de ver a Portela e o Império Serrano serem campeãs e reafirmarem que Madureira é mesmo a capital do samba. Porém, não é essa história que eu quero contar aqui hoje. O bailar de cores e sombras é mais intenso.
No sábado de carnaval, os caminhos me levaram para Rocha Miranda, mais precisamente para a Rua Pão de Açúcar. Ali era o aquecimento para a saída da Legalize, clássica turma de bate-bolas do subúrbio do Rio. Pra quem não sabe, os bate-bolas são figuras clássicas do carnaval de rua carioca e se caracterizam pelas máscaras de clóvis, roupas coloridas e uma bola de plástico com a qual batem no chão, além da bandeira característica de cada turma.
O paredão de som da equipe O Troço, logo na segunda esquina, já me mostrou onde eu estava. Haviam mais de 100 pessoas ali na hora em que cheguei: crianças, mães, pais e jovens. Fazendo aquela “palmeada” pra entender o que tava rolando e achar alguém conhecido, reparei na trilha de fogos que estavam ocupando a rua.
Encontrei alguns conhecidos no bar. Após alguns goles de cerveja e uma ideia trocada, avistei uma amiga e fui parar no local onde a turma se arrumava. Em sua grande maioria, são pretos e favelados. Lá encontrei o mano Samuel, que é um dos que me conta sobre esse universo nos últimos tempos. Pela primeira vez, ele estava saindo fantasiado e com uma turma. Era parte de sua pesquisa para o mestrado e um desejo antigo também.
O DJ anunciou a saída da turma e colocou a música oficial: um funk tamborzão que exaltava o bonde da Legalize e a sua figura de liderança, Robinho. Os fogos logo foram acesos e começaram a estourar, num clima total de baile. Robinho foi ao microfone para agradecer o apoio dos moradores e acabou bastante aplaudido antes de apertar as mãos de todo mundo que estava na rua, tipo presidente mesmo. Com a celebração se encaminhando para o final, era chegada a hora que a juventude bate-boleira tanto queria: aquele rolê pelas festas de rua.
E lá fomos. Literalmente, vesti a camisa da Legalize e segui com a turma. Passamos pela praça de Rocha Miranda e de lá caminhamos para Madureira. Nunca saí em uma torcida organizada, mas, nesse rolê, eu senti que cheguei a uma experiência próxima. No começo da Estrada do Sapê, encontramos uma outra turma. Alguns cumprimentos e encaradas depois, seguiram todos pela estrada. Já era noite, a iluminação não era das melhores, mas as cores das roupas se mostravam vivas. Se aproximando de Madureira, aconteceram algumas pequenas tensões com integrantes de outras turmas que passavam por nós, mas nada que gerasse algo maior. Ao chegarmos na altura da Praça Paulo da Portela, havia mais turmas.
Já fazia um tempo que não curtia o carnaval de rua do subúrbio e, mesmo estando em outro momento, estar ali me trouxe uma boa lembrança de épocas passadas. Há um bom tempo também não andava com um número tão grande de pessoas juntos. O lance de compor uma multidão e a reação que isso causa em outras pessoas é bem interessante, principalmente, se tratando de uma multidão fantasiada e mascarada.
Sem dúvida, foi um começo de carnaval legítimo da pista suburbana. Podemos sorrir, mas sem deixar de estar atentos.