Nesta sexta-feira, dia sete de agosto de 2009, representantes de instituições e moradores de Comunidades do bairro Maré se reuniram na Associação de Moradores da Vila dos Pinheiros para discutir sobre a atual situação de violência enfrentada principalmente na Vila do João e Vila dos Pinheiros.
Mais de sessenta pessoas reunidas. Foram relatadas várias situações de violência ocorridas nesses tempos de confrontos mais intensos, assim como, propostas para superarmos essas condições de heteronomia social. Foi um momento histórico. Representantes de Ongs, Escolas Públicas, Associações de Moradores, Organizações que lutam pela defesa dos Direitos Humanos, a Igreja também esteve presente e, principalmente, moradores das áreas atingidas. Leonardo Melo estava iluminado e chegou a invocar a luta e a organização de nossos ascendentes mareenses por melhores condições de vida no bairro desde décadas de cinqüenta, sessenta. Mas nesses novos tempos talvez o “inimigo” seja outro. Talvez mais violento e menos dialógico, mas a luta é digna e merece ser travada. Foram relatos emocionados de pessoas que tem uma, uma não, várias histórias nessel ugar. Que constituíram famílias, laços de afetividade com vizinhos, parentes, ruas, casa, espaços públicos etc. Fiquei feliz em ver a juventude presente representando a renovação da militância e a fé na esperança por dias melhores. Mas o que mais chamou minha atenção foi presença harmônica e propositiva de várias instituições que tem trabalhos belíssimos na Maré e que nesse momento unem forças, saberes e fazeres na busca por uma Maré de paz. “Rompendo com rompimento” muitas vezes imposto pelas nossas divergências políticas, metodológicas, ideológicas e físicas. Físicas porque muitas vezes nos são impostas barreiras geográficas por conta das disputas ignóbeis entre traficantes de drogas que leva os moradores do bairro a criar fronteiras antes não existentes. Fronteiras essas que prejudicam a uma maior integração do bairro, na circulação das pessoas e favorecem a construção de uma sociabilidade violenta e muitas vezes a uma vinculação simbólica ao tráfico entre os mais jovens.
Infelizmente nosso encontro foi várias vezes interrompido por tiros. Isso as 11h da manhã. Hoje (sábado, dia 08), um amigo me disse que no momento do encontro nessa troca de tiros um policial foi baleado e não resistiu ao ferimento. Tod@s nós tememos o pior naquele momento, mas ninguém se ausentou da sala ou se sentiu intimidado(a).
Certos de que estamos do lado dos(as) mocinhos(as) e cientes de nosso compromisso com a favela tiramos duas importantes decisões:
1) A realização de um ato público de sensibilização da população previsto para o final desse mês na Vila do João (a reunião para organização desse ato acontecerá na próxima sexta-feira as 09h no mesmo local); e
2) A continuidade e fortalecimento desse grupo através do Fórum Popular da Maré.
Alguém se lembrou da existência de mais de 100 instituições na Maré, entre elas igrejas, escolas etc., mas que esse momento deveria ser construído pelo povo do bairro Maré. Para isso conclamamos a todas e todos que tenham laços com esse espaço que se juntem a nós na luta pela reconfiguração social, política e moral de nosso bairro. Que ele não seja nunca mais “vítima” ou presa fácil de políticos(as) descomprometidos com a ética e o povo desfavorecido.
São novos tempos. Alguns nascem grandes outros tem a grandeza imposta a eles, isso que faz acreditar na vitória. Nesta sexta presenciamos a primeira delas. Acho que são várias as divergências e diferenças que nos separam, precisamos agora descobrir e investir naquilo que nos une.
“Não adianta ser milhões se não somos um, ação coletiva objetivo comum”. Facção Central
Francisco Marcelo – Estudante universitário e morador da Maré