Sabe, gente. Tenho 26 anos de profissão. Repórter de Polícia, Assessor da Secretaria de Estado de Segurança. Vi muita coisa de perto. Os adolescentes assassinados na Candelária, em Vigário Geral… Chacinas. Chacinas. Chacinas. Jovens mortos após acidentes de carro após a balada. Vi o nascer das UPPs, desde o seu berço, em 2008. Fui editor do site da Secretaria de Segurança, do site das UPPs.
Sabe, gente…
Tenho dois prêmios de Direitos Humanos e um Nacional. Acredito que isso seja uma militância jornalística ideológica, pois escolhi um lado. O lado da humanidade, da honestidade, da coerência. Olhar para a parte mais fraca nas relações dos poderes. Porque é assim.
Marielle.
A dinâmica do crime é óbvia. Não foi assalto. Os tiros miraram nela. Não o motorista, fatalidade. Se fosse assalto, ele seria o alvo. Parece que os projéteis eram de responsabilidade federal, mas longe de ser um crime federal. Tudo indica para as atividades comunitárias e humanitárias da vereadora. O que motivaria isso? O que ela estava denunciando? Quem?
O assassinato foi programado. Monitorado. Profissional. Não é coisa de traficantes. O assassino tem cor. É azul e branco. Tem farda à paisana. Ano eleitoral. Segurança sob intervenção. Queimas de arquivos.
Marielle.
Você fez a sua parte – além das estatísticas – nesse nosso mundo barbárie. A sua breve vida agora é eterna. O seu sacrifício valeu a pena. O desvendar de tudo isso é responsabilidade do Estado. Você foi maravilhosa. Dom Quixote entre a Maré e a Zona Sul nas suas causas. Você foi voz.
Não queria, sinceramente, estar escrevendo esse texto. Mas tenho que escrever. Por sua causa. Pela nossa causa. Pela causa de milhares.
Mas não queria.