Em 1808, a frase “Ponha-se na rua” ficou famosa no Rio de Janeiro. Sua origem remonta às iniciais “P.R” pintadas bas portas das casas nos dias seguintes à chegada da Família Real à cidade. A sigla significava “Príncipe Regente”, mas a criatividade carioca fez questão de transforma-lá. Na época, aqueles que tiveram suas casas marcadas tinham 72 horas para abandonar suas moradias com mobília e escravos dentro, para que os nobres pudessem usufruir dos bens.
Depois de 200 anos desde as desapropriações. a História faz questão de nos lembrar desse episódio hoje, em 2013. Isso porque no alto do Morro da Providência – a primeira favela do Rio de Janeiro – a Secretaria Municipal de Habitação (SMH) marcou casas que serão demolidas para realização de obras do programa Morar Carioca. As portas de várias residências são pintadas com “SMH” e um número de quatro algarismos. Mesmo que esteja prometida a criação na área de uma praça que, associada a mirantes no entorno, deverá ter um grande potencial turístico, o carioca, novamente, não perdeu tempo em criar sua própria frase para a sigla: “Saia do morro hoje”.
O momento atual vivido pela comunidade da Providência remete ainda a outro, ocorrido há pouco mais de cem anos, mas em escala mais significativa. O prefeito Francisco Pereira Passos (1836-1913), que governou o Rio de 1902 a 1906, promoveu em seu mandato a maior reforma urbana já vista na cidade, demolindo cerca de 1.600 residências e desabrigando aproximadamente 20 mil pessoas na região central para abrir avenidas e fazer obras sanitárias.
Desta vez, ao menos, a prefeitura investiu em não afastar a população do morro. No entorno da favela estão em construção três condomínios do ‘Minha Casa, Minha Vida’ que servirão para reassentar as 671 famílias removidas (um total de 4889 pessoas). A SMH informou ainda que, deste número, 196 famílias já aceitaram a realocação.
Fonte: http://revistadehistoria.com.br/secao/reportagem/saia-do-morro-hoje