Salinas: brilha o Sol sobre o mar onde a natureza não é mais querida
“Brilha o sol sobre o mar onde a natureza é querida. Em teus trilhos o sal, oh riqueza tão nobre e esquecida. Salinas da Margarida. O ouro sal já não há, mas é pura e saudável a vida. A pesca sempre a ajudar, melhorando a vida sofrida”.
Os fragmentos acima correspondem ao belíssimo hino de Salinas da Margarida. Localizado no sul do Recôncavo baiano, distante de Salvador cerca de 270 km, o referido município, às margens do rio Paraguaçu, possui uma área de 148, 327km² e uma população de pouco mais de 15 mil habitantes segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
Do ponto de vista geográfico, realmente: “brilha o Sol sobre o Mar!” é muito bonito, cenário perfeito para turistas e veranistas. Os visitantes habitam, por um curto espaço de tempo, e embevecidos com as paisagens naturais (que ainda existem), a culinária e a hospitalidade nativa, saem física, mental e espiritualmente organizados para retornar no verão seguinte. Já para o nativo, a realidade é diferente: o ouro sal já não há e já não é pura e saudável a vida.
No que tange à questão socioeconômica, tem-se uma situação muito complexa: cerca de 80% da população busca sustento na pesca artesanal, o qual está cada dia mais difícil, em função da degradação ambiental que cresce assustadoramente por causa, dentre outros fatores, da atuação nefasta de empresários e empreendimentos de médio e grande porte, “o mar não está mais pra peixe”!
Poluição com resíduos diversos e o desmatamento desenfreado que atinge também o manguezal (berço da biodiversidade marinha) têm deixado a vida do pescador salinense cada dia mais difícil.
É notória, a expansão assustadora de empresários e empreendimentos, em detrimento dos recursos naturais e da vida.
Como se não bastasse, nas águas do rio Paraguaçu, o reflexo danoso se estende pelas terras outrora de quilombolas e Tupinambás. A exploração de areia, de madeira e a dizimação de animais silvestres têm sido o resultado da atuação exacerbada do capital que, com a conivência do poder público, aflora e ofusca as oportunidades dos que dependem dos recursos naturais para a sua sobrevivência.
O ouro que era visto no Sal, aos olhos do capital, reluz em elementos da natureza, hoje não mais querida. Pouco importa a vida do nativo, pescador ou das futuras gerações, prevalece o descaso e a ganância do capital em detrimento da vida.
Está matéria foi publicada no jornal a Voz da Favela, edição de setembro 2019.