Hoje é o dia da Favela
O Prefeito da cidade do Rio De Janeiro, e a Câmara Municipal decretaram a seguinte Lei:
Lei nº 4383 de 28 de junho de 2006 do Rio de janeiro:
Art. 1º Fica instituído o Dia da Favela, no Calendário Oficial do Município do Rio de Janeiro, a ser comemorado no dia 4 de novembro de cada ano.
Nada mais justo, para homenagear e resgatar a autoestima e a cidadania das pessoas que residem nas Favelas da cidade.
O termo “favela” como nós conhecemos tem sua origem do Morro da Favela, que recebeu este nome devido à vegetação predominante no local, que era a Favela, uma planta típica da caatinga, extremamente resistente à seca.
Mas este morro não era no Rio de Janeiro, mas sim em outro local de resistência e luta: A cidadela de Canudos, palco da Guerra de Canudos ou Campanha de Canudos, que foi o confronto entre o Exército Brasileiro e integrantes de um movimento popular de fundo sócio religioso, liderado por Antônio Conselheiro, que durou de 1896 a 1897, no interior do estado da Bahia, no nordeste do Brasil.
A cidadela de Canudos foi construída próxima a alguns morros, entre eles. Os soldados, ao retornarem ao Rio de Janeiro, deixaram de receber seu soldo e instalaram-se provisoriamente em alguns morros da cidade, juntamente a outros desabrigados. A partir deste episódio, os morros recém-habitados ficaram conhecidos como favelas, em referência à “favela original”.
“É importante ressaltar que até esse período o termo favela só era usado em referência ao Morro da Providência, inclusive na música. Em 1943, o cantor Herivelto Martins cantava: ‘Favela, Salgueiro, Mangueira, Estação Primeira, guardai os vossos pandeiros’. Ele citava os nomes das comunidades e não usava o termo se referindo a todas”, atenta o pesquisador e geógrafo José Baptista Ferreira de Mello. “Os soldados se instalaram nas encostas com restos de madeira, zinco, papelão e de latas de querosene. Esse cenário só era bonito na música porque, na verdade, era uma fornalha já que madeira e zinco armazenam calor”, avalia.
A História dá voltas e novamente militares do Exército Brasileiro “instalaram-se provisoriamente em alguns morros da cidade, juntamente a outros desabrigados”. Mas este é assunto para outro momento.
De acordo com a agência da Organização das Nações Unidas (ONU), UN-HABITAT, 26,4% da população urbana brasileira viveria em favelas. Dados do Ministério das Cidades, apoiados nos números do Censo 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam que no período entre os anos de 1991 e 2000, enquanto a taxa de crescimento domiciliar foi de 2,8%, a de domicílios em favelas foi de 4,8% ao ano. Entre 1991 e 1996 houve um aumento de 16,6% (557 mil) do número de domicílios em favelas; entre 1991 e 2000 o aumento foi de 22,5% (717 mil).
Em 2006, um relatório divulgado pela ONU apontou que uma estimativa de que o Brasil terá cerca de 55 milhões de pessoas morando em favelas em 2020, o que equivaleria a 25% da população do país. No entanto, apesar do alto número de pessoas, o crescimento das favelas no Brasil é apontado pela organização como praticamente estável, em 0,34% ao ano. Além disso, o percentual da população que vive em favelas vem diminuindo ao longo dos anos.
Para o sociólogo especialista na questão fundiária e habitacional Maurício Libânio, ser morador de favela “É uma condição de moradia expressa pelas camadas mais necessitadas da população, por falta de política habitacional. Desde a época do Brasil colonial as populações escravas moravam em senzalas ou mocambos, o nome foi evoluindo até os dias de hoje”, explica .
As favelas apresentam altas taxas de criminalidade, suicídio, uso de drogas e doenças. No entanto, o observador Georg Gerster notou que as “favelas, apesar de seus materiais de construção pouco atraentes, podem ser também um local de esperança, cenas de uma contracultura, com um grande potencial de incentivar mudanças e de um forte impulso.” O pesquisador Stewart Brand também disse, mais recentemente, que “favelas são verdes, se referindo ao uso mínimo de energia e de utilização de materiais. As pessoas ficam por perto, a pé, de bicicleta, táxi ou transporte público. E Na maioria das favelas a reciclagem é, literalmente, um modo de vida.”
Segundo a jornalista Gizele Martins, a favela virou moda. Na verdade, ela sempre foi um grande espetáculo para os telejornais, jornais, seja lá qual mídia for. Mas é certo também que ela sempre esteve nas páginas mais sangrentas. Gizele afirma que a favela, para a sociedade capitalista neoliberal, é sinônimo de violência. Mas lembra de que há muita coisa bela e edificante nelas, como, de resto, há nas outras partes da cidade.
A jornalista ressalta ainda que há vários problemas lá dentro. Mas ela não é o problema, e sim, é consequência da histórica falta de preocupação dos governantes para com os direitos humanos.
“Favela”, não… Favela sem aspas: Favela. Nada de usar eufemismos assépticos e alienantes como ‘comunidade’ e outros que tais. Eu desconfio de qualquer pessoa que fala da favela, com certo receio, como se fosse “comunidade”. Quem disse que FAVELA é algo ruim?
Ao se reafirmar e reconhecer o lugar é esse onde mora, passamos a olhar o mundo de outra forma. Passamos a questionar… E lutar por direitos, por tudo aquilo que ainda não há nesta tal FAVELA!
Ao se perceber como favelado, o morador deve reconhecer todos os problemas que tem comparar seus direitos, assim como os deveres. Ser favelado é ter cultura, é ter educação, mesmo que alguns não queiram, pois estes não entendem que há outras formas de culturas. Ser morador de favela significa reconhecer as resistências culturais e social. É reconhecer o esforço, o trabalho, é valorizar o chão onde vive, seu espaço, e sua música. É se valorizar e gritar para o mundo: Saudações aos antepassados que viveram, sofreram e se alegraram nas favelas.
Salve todos aquelas pessoas de bem que moram, trabalham, amam, lutam e se divertem nas favelas do Rio de Janeiro,no Brasil e no mundo!
Salve o dia da Favela!
Desenho de Gabriel Corrêa