Um é namorador, o outro é forrozeiro e o terceiro, dizem, guarda as chaves do céu! Uma coisa eles têm em comum: todos gostam de festa e se esbaldam Brasil afora, sobretudo na região Nordeste, e mais ainda na cidade de Campina Grande, na Paraíba, quando chega o mês de junho.
Falar de Antônio, João e Pedro é falar de festança das boas, mas este ano os santos juninos estão mufinos, como se diz por aqui. Estão quietinhos, cada qual no seu quadrado! A inesperada e nada agradável passagem do coronavírus tirou de tempo o arrasta pé programado para o mês de junho e já anunciado para o mundo.
A chegada do vírus, que esta semana deve alcançar a triste marca de 50 mil mortes no Brasil, trouxe também o isolamento social, uma forma de prevenir aglomerações e, consequentemente, o contágio ainda maior da população. Shows, festas juninas, reuniões familiares ao redor da fogueira, tudo foi cancelado e o Nordeste ficou mais triste.
Não se pode negar que “O Maior São João do Mundo” movimenta números que impressionam qualquer economia. Somente em 2019 a cidade de Campina Grande recebeu 1,8 milhão de pessoas no Parque do Povo, 9 mil artistas no parque e em outras áreas da cidade e injetou cerca de R$ 300 milhões na economia em 30 dias de festa.
A realidade este ano é completamente diferente. A festa foi adiada para outubro – 09 de outubro a 08 de novembro. Isso se tivermos a segurança de que o vírus foi completamente debelado, o que não é nada provável até o momento. Se for decretado o fim da pandemia entre agosto e setembro, realizar uma festa popular dessa magnitude é pedir para renovar o contrato com as funerárias.
O momento é delicado, mas o povo nordestino, que tem histórico de guerreiro e não se abate fácil, logo deu um jeito de levantar o astral. Apresentadores de telejornais do Nordeste estão com uma mania danada de dizer: “afaste aí o sofá e vem dançar com a gente um forró na sala”.
É essa demonstração de resistência do povo nordestino que me impressiona. Nada de choramingar pelos quatros cantos, aqui é na base da chinela, mesmo que seja na sala de casa. Se não tem o “arraiá” no quintal, o “anarriê” sai do sofá e o “alavantu” vai até a tela da TV.
A televisão, aliás, tem sido uma grande aliada nessa resistência e na manutenção da tradição nordestina. Estamos vivendo um momento de interiorização, mas nossas tradições pulsam agora nas telas da TV e dos celulares.
A mídia globalizada nos permite curtir, mandar likes, beijos e dançar sem sair de casa assistindo as lives no instagram, facebook ou youtube. Artistas como Elba Ramalho, Flávio José, Amazan, grupos de forró pé-de-serra e muitos outros que representam a cultura nordestina já entraram nessa onda.
Da mesma forma, as emissoras de TV estão anunciando programas especiais com cantores de cada um dos nove Estados do Nordeste, cada um de sua casa, para celebrar o São João. É uma forma de manter viva a tradição e levar para a casa dos nordestinos a chama acesa do forró e da cultura junina.
O negócio é fazer de conta. Não é fugir da realidade, mas fazer de conta para driblar o vírus. Com uma panela de milho cozido, uma tira de bandeirolas coloridas na varanda e a live de Elba Ramalho gritando no youtube, o seu São João pode até não ser o maior do mundo, mas com certeza será o melhor possível – e mais criativo – em tempos de pandemia.
Não adianta querer abrir ranchos no interior ou fazer festa popular nesse momento. Não vamos pegar pesado com Antônio, João e Pedro. Eles são santos, mas organizadores de eventos e prefeitos, tenham santa paciência: é melhor ir devagar com o andor que o santo é de barro!
Vamos tomar um café?