O paraense George Washington Oliveira Souza gastou 160 mil reais em armas, munição e explosivos para dar o golpe mais barato da república brasileira – se tivesse dado certo, é óbvio. Mas alguém desconfiou do movimento nas imediações do aeroporto, avisou à polícia e o xará do primeiro presidente dos Estados Unidos foi preso e está na Penitenciária da Papuda, em Brasília. Seu depoimento foi reproduzido em fac-símile nas redes sociais, assim a gente vê exatamente o que o escrivão anotou e percebe que não há um erro de português, um deslize gramatical, nada, o policial deve ter sido professor antes do concurso para a Polícia Federal.
Isto poderia ser apenas um detalhe, mas salta aos olhos porque estamos habituados a ler depoimentos truncados, horríveis, repletos de “perguntado se”, “declarou que”, “encontrou o mesmo” e o infalível “mais não disse nem lhe foi perguntado”. Nota-se uma preocupação com a formalidade, como se quisessem apresentar um documento liso e escorreito, sem máculas nem dúvidas, evitando brechas onde instalem-se detalhes para atrapalhar o todo. Como se sabe, é nos detalhes que está o diabo.
Por exemplo, no depoimento simples e direto prestado ao delegado-geral da Polícia Civil de Brasília, Robson Cândido, ele diz que petistas infiltrados nos quiosques vendiam lanches envenenados ao acampados no QG e que ele alertou um “alto general”. No dia seguinte todos os quiosques foram proibidos, assim como o comércio de ambulantes, o que não se confirmou na pesquisa do noticiário sobre o acampamento.
Num protesto contra a eleição de Lula, ele abordou um PM e um bombeiro para sondar sobre seus planos e ambos disseram que se não “atacasse nem bombeiros nem soldados, tudo bem”, estavam do mesmo lado, deduziu Washington. Pela narrativa, percebe-se a facilidade com que ele circulou pela capital da república com bombas e dinamite, além de armas diversas e munição, sem ser incomodado até a detenção por causa da bomba perto do aeroporto.
O futuro ministro da Justiça, Flávio Dino, é quem mais tem aparecido em público para falar do caso e das medidas extras de segurança que ele impõe. Dou um doce para quem apontar o nome do atual ministro numa lista de três. Isso é brincadeira, claro, mas tem um fundo de seriedade ao mostrar como o brasileiro trata dos assuntos mais relevantes do nosso cotidiano. Ainda não digeriu a eliminação da Copa do Mundo e lá vem pegadinha terrorista para cima da gente.
Embora George Washington Oliveira Souza garanta à polícia que seu objetivo é não deixar o Brasil cair nas mãos dos comunistas e que no governo a tomar posse daqui a pouco não haja “vermelhos comedores de criancinhas”, a cúpula de segurança presidencial já trata do reforço necessário para evitar surpresas como a do paraense fanático. A festa da posse tem agendadas 40 apresentações artísticas em espaço público onde estão previstas 300 mil pessoas.