Por Danielle Policarpo e Jéssica Pessôa
Na última quarta, 13, o Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz) sediou o seminário “Violência armada e saúde em escolas localizadas em periferias urbanas”. Professores e alunos da rede pública de ensino, pesquisadores e profissionais de saúde dividiram suas vivências diante da violência nos territórios do Jacarezinho e dos Complexos de Manguinhos e Maré, além dos reflexos na saúde dos estudantes e trabalhadores das periferias cariocas.
O evento, realizado pela Cooperação Social da Fiocruz, foi o segundo de 2017 sobre o assunto. Assim como o anterior, teve como objetivo construir uma agenda de debates e atividades com movimentos sociais e organizações da sociedade civil para articular estratégias de prevenção a violência e dos impactos causados por ela na saúde e educação dos moradores das favelas cariocas.
A discussão trouxe dados novos e surpreendentes. Na primeira mesa do dia, “A violência armada, sofrimento psíquico e adoecimento em escolas das periferias urbanas”, o pesquisador Leonardo Bueno (Cooperação Social da Fiocruz) destacou, através de pesquisa realizada em Manguinhos, que as situações de sofrimento psíquico são as que mais causam impactos na saúde de moradores. O número de pessoas que precisam de atendimento na área de saúde mental só tem crescido, em todas as faixas etárias. Esse crescimento está associado a exposição por violência de arma de fogo, situações de vulnerabilidade e insegurança.
Além disso, outra informação que chamou atenção foi que 91% dos moradores entrevistados acreditam que a violência com uso de arma de fogo afeta a vida escolar dentro da favela. Os confrontos armados foram a maior causa de cancelamento de aulas esse ano.
A assistente social do Redes da Maré Lidiane Malanquini apontou que as escolas da região funcionam com uma hora a menos em relação ao horário funcional das outras unidades de ensino da cidade, deixando clara a precariedade destes equipamentos públicos escolas em territórios vulneráveis. Como alternativa, foi abordada a importância de que os profissionais que trabalham nos territórios populares mantenham uma relação afetiva com esses espaços.
– Existem diversas violências dentro da favela para além da violência armada. Essa é apenas uma ponta disso tudo. O grande desafio da saúde é pensar como vai discutir sobre a questão da violência armada e como transformar essas informações em dados para que se possa evidenciar o sofrimento das pessoas, explica Lidiane.
A segunda mesa trouxe o tema “Alternativas para prevenção a violência e promoção da saúde nas escolas e periferias urbanas”. O objetivo foi discutir e pensar em possíveis propostas para o enfrentamento da violência em territórios vulneráveis, a partir das experiências e tentativas de engajar jovens das favelas nos estudos. Segundo Lourenço César, do Fórum de Educação e Cultura da Maré, uma das ideias seria realizar um atendimento em rede com equipe multiprofissional nas escolas para trabalhar a questão da violência e evasão escolar.
No intervalo entre uma mesa a outra, aconteceram apresentações do grupo Manguinhos em Cena, o que emocionou moradores da região que estavam presentes. As cenas relatavam sobre a rotina dos moradores diante do confronto armado.