No inicio da instalação das UPPs afirmei que aquilo era um estupro do estado, uma vez que o mesmo entrou nas favelas sem o social, sem aquilo que a população mais pobre precisava e o estado se fez presente pela força. Os traficantes saíram de suas localidades, expandiram sua atuação para outras cidades e estados e voltaram ainda mais fortes. Em dez anos, bilhões foram gastos e, hoje, estamos em uma situação pior que no início. Ao mesmo tempo, ao invés de mantermos programas sociais e investirmos cada vez mais em educação e distribuição de renda, nos últimos dois anos o que tivemos no país foram os mais terríveis retrocessos da história do país. Some-se isso ao desgoverno do estado, com o governador que implantou tudo isso preso com mais de uma dezena de processos por corrupção. Chegamos ao ponto de funcionários públicos, que sempre tiveram estabilidade, terem que receber cestas básicas. Se a situação está crítica para funcionários públicos, imagina para os mais pobres?
Agora, nos vemos diante de uma intervenção federal do governo de Michel Temer na área da segurança. Temer tem o menor índice de aprovação de todos os presidentes de nossa história dos últimos vinte e oito anos e, apesar de realmente nosso estado estar muito desgovernado e com problemas graves de violência, até que ponto essa intervenção não tem outras finalidades? Há muitas especulações. Seria essa uma tentativa de aumento da aprovação de Temer diante da população?
Alguém imagina o que pode acontecer nos próximos tempos? É um grande jogo de xadrez e a população mais pobre, infelizmente, é a que mais sofre. Se as favelas já viviam nos últimos tempos, praticamente, em um estado de exceção, a situação pode ficar muito pior. O Rio de Janeiro vai se transformar em uma grande UPP e, novamente, vão cometer o mesmo erro, colocando a força da segurança sem criar alternativas para o social.
Já tivemos informações que há meses existiu um diálogo com a sociedade para uma intervenção social com apoio do governo federal que não aconteceu e, agora, vem a intervenção da força. Mais uma vez o estado vai cometer um estupro, uma vez que a segurança é a única ação que terá mais recursos à disposição. O pior é ver ainda mais do mesmo, com os mesmos atores que puxaram manifestações pela paz no passado, como é o caso do Viva Rio, atores esses que representam as elites e a classe média. Minha esperança é ver a favela sendo ouvida nesse processo e que possamos reverberar qualquer ação que descumpra direitos humanos e coloque em risco ainda maior a grande parte da população do nosso estado: os pobres.