Silvio Tendler estreia o documentário Dedo na Ferida

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Em tempos sombrios, em que o mundo se depara com a perda progressiva de direitos sociais e com o ressurgimento de movimentos de extrema-direita, o documentário Dedo na Ferida, dirigido pelo cineasta Silvio Tendler, tem sua estreia nacional no dia 31, no Rio de Janeiro. Eleito pelo público como melhor documentário no Festival do Rio 2017 e selecionado para a mostra competitiva do Festival de Havana (Cuba) em 2017, o filme chega às salas de cinema no Rio de Janeiro (31 de maio), em Fortaleza (5 de junho), Brasília (7 de junho), São Paulo (14 de junho) e Porto Alegre (21 de junho).

Dedo na Ferida se afirma como um filme incomodamente atual. Com a precisão de um olhar lapidado em mais de 80 obras de cunho histórico e social, o diretor trata do fim do estado de bem-estar social e da interrupção dos sonhos de uma vida melhor para todos, em uma conjuntura onde a lógica homicida do capital financeiro inviabiliza qualquer alternativa de justiça social.

Para traçar um panorama do cenário contemporâneo, Silvio Tendler realizou mais de 25 horas de filmagens, nas cidades do Rio de Janeiro, Japeri e Cachoeiras de Macacu, na cidade de São Paulo, além de Paris e Atenas, na Grécia, onde entrevistou nomes como Yanis Varoufakis, ex-ministro das Finanças da Grécia, Celso Amorim, ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil, Paulo Nogueira Batista Junior, vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (Brics), o cineasta Costa-Gavras, os intelectuais Boaventura de Sousa Santos (Universidade de Coimbra, Portugal), David Harvey (University of New York, Estados Unidos) e Maria José Fariñas Dulce (Universidade Carlos III, Espanha); os economistas Ladislau Dawbor (PUC-São Paulo), Guilherme Mello (Unicamp) e Laura Carvalho (USP), entre outros pensadores que interferem no mundo contemporâneo.

Dedo na Ferida discute o retrocesso ideológico a posições neoconservadoras, pautado pelo empobrecimento da classe média, pela falência dos Estados e pelo desemprego. Examina de que forma o capitalismo deixou de ser produtivo para se tornar meramente especulativo, motivado pela aposta na geração de dinheiro fácil. O sistema financeiro, que deveria servir ao propósito de levar recursos dos setores superavitários para os deficitários interessados em investir em produção, abandonou o papel de “atravessador” e se assumiu como fim principal das transações econômicas.

Em nome dos interesses do grande capital internacional, um pequeno grupo comanda o destino dos recursos do planeta. Para esse 1% mais rico da população, uma crise nunca deve ser desperdiçada. Quebras de bolsas de valores, estouro de bolhas especulativas e a bancarrota de países que levam famílias para linha da miséria viram uma oportunidade para aumentar o seu capital, seu poder e sua influência. Eles são os donos do poder. Cerca de 65 famílias têm, aproximadamente, a mesma riqueza que metade da população mundial. Bancos, seguradoras, fundos de investimento e elites econômicas navegam em uma esfera onde taxas de juros e dívidas de governos são a moeda mais forte.

Os governos nacionais perdem autonomia e passam a lutar contra massas de capital que circulam livremente pelo globo. Grécia, Espanha, Portugal, Brasil e tantas outras nações veem seus destinos definidos pelos interesses da esfera financeira. Grandes corporações que, por vezes, detêm orçamentos mais robustos do que o de alguns Estados, atuam como um “governo sombra”, guiando políticas públicas que favorecem à maximização de seus lucros.

Consideradas importantes demais para falir, grandes corporações envolvidas diretamente na crise que atingiu o sistema econômico internacional em 2008 não foram responsabilizadas pelo estrago causado na economia produtiva. Operando dentro da lei e socorridas com dinheiro público, seguem acumulando um capital volátil, transnacional, pouco produtivo e guardado em paraísos fiscais. E elas estão prontas para lucrar na próxima crise.