“Enquanto todo mundo espera a cura do mal, e a loucura finge que isso tudo é normal, eu finjo ter paciência. E o mundo vai girando cada vez mais veloz, a gente espera do mundo e o mundo espera de nós, um pouco mais de paciência”, trecho da música Paciência, Lenine.
Síndrome de Burnout ou síndrome de Burnout materna, é caracterizada pelo esgotamento físico e mental associado ao trabalho. Trata-se de um estado de tensão emocional e estresse crônico causado por relações de trabalho física, mental e emocionalmente desgastantes, que causa uma espécie de “pane” no cérebro. Reconhecida recentemente como doença crônica pela Organização Mundial da Saúde- OMS.
Segundo pesquisa da Isma-BR (representante da International Stress Management Association), 72% dos brasileiros que estão no mercado de trabalho sofrem alguma sequela ocasionada pelo estresse. Desse total, 32% sofreriam de burnout. E 92% das pessoas com a síndrome continuariam trabalhando.
A sensação de esgotamento físico e mental é a principal característica dessa síndrome conhecida também como síndrome do esgotamento profissional. Alta carga de trabalho, longas jornadas, ambiente de extrema cobrança e pressão, pouco repouso, são fatores que contribuem para o surgimento ou agravamento da síndrome. E não é difícil identificarmos esse cenário nos ambientes de trabalho que conhecemos.
A síndrome de Burnout sempre foi diretamente ligada ao exercício de uma profissão, ao desenvolvimento de um trabalho, ao ambiente corporativo, organizacional. O Ministério da Saúde aponta que esta síndrome é comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades constantes, como médicos, enfermeiros, professores, policiais, jornalistas, dentre outros.
No entanto uma nova abordagem vem sendo estudada há pelo menos 11 anos pela psicóloga belga Moïra Mikolajczak. A profissional que é PhD, desenvolveu uma pesquisa que constatou entre mulheres e homens quando questionados sobre suas tarefas como mães e pais, alto nível de estresse, semelhante ao vivido no universo corporativo.
A partir desse novo olhar inicia-se estudos e debates sobre esse novo tema chamado de síndrome de Burnout parental ou materna. Que correlaciona os cuidados, demandas e responsabilidades exigidas na criação e educação de uma criança ao exercício de trabalhos formais igualmente exaustivos suscetíveis ao desenvolvimento ou agravamento da síndrome.
Sobretudo para a mães solos que não contam com a figura paterna nas construções e compartilhamento dessas responsabilidades e também para as mães que possuem a presença paterna nessa relação de maneira “simbólica”, já que as mulheres que sofrem diretamente o apelo social por uma maternidade compulsória, atribuída a ela unilateralmente a responsabilidade do cuidar, sendo o homem, o pai um “ajudante” ou nem isso.
Existe um silenciamento das dores maternas, a mãe é vista como ser divino que não fraqueja, não sucumbi, não cansa, uma não humana. A carga mental conferida as mães refletem no seu estado físico, psíquico e emocional, a sobrecarga vivida por mães que muitas vezes fazem jornadas duplas, triplas, são as principais encarregadas dos cuidados com os filhos e com a casa.
Casa essa que agora para algumas mães, com as medidas adotadas devido á pandemia como: o isolamento social, o fechamento das creches e escolas, a suspensão das atividades presenciais, tornou-se ambiente de trabalho (home office), ambiente escolar, ou qualquer outra coisa, mas pouco a pouco deixando de ser apenas um lar. Todo esse cenário acaba contribuindo para o adoecimento, para o desenvolvimento da síndrome de Burnout materna.
Não há um tratamento clínico para essa síndrome, o que recomenda-se é o descanso, se reenergizar, principalmente fora do ambiente de trabalho, o acolhimento da família, assim como tentar aproveitar o tempo para lazer, podem contribuir na recuperação da síndrome de Burnout. Neste caso fica a dica de exercitar um pouco do que diz a canção citada no início do texto.
“Embora o burnout represente um nível exacerbado de estresse, as pessoas continuam em seus postos de trabalho pelo medo do desemprego. Um trabalhador nesse estado está mais propenso a cometer erros graves”, comenta Ana Maria Rossi, psicóloga e presidente do Isma-BR.