Brasil e a derrota certa a cada quatro anos

Há uma leitura sobre a saída do Brasil da Copa do Mundo no Catar que me interessa por misturar no mesmo contexto futebol e o momento político que vivemos hoje, esse fim de festa que foi o governo Bolsonaro para segmentos específicos. Determinados cantores sertanejos, por exemplo, foram denunciados por venderem apresentações únicas a preços exorbitantes para prefeituras de cidades pobres. Vários casos ganharam o noticiário e as prefeituras suspenderam os eventos sob a suspeita de desviar parte da verba para bolsos  privilegiados.

É certo que o governo federal não é responsável por ações de competência municipal, se o prefeito torra o dinheiro da cidade é problema seu e dos munícipes, que se entendam entre si. O máximo de influência do governo central nestes casos é o exemplo, o incentivo, a omissão no combate ao mal feito em sua própria esfera de poder. A estrada federal em péssimo estado é exemplo para prefeitos e governadores adotarem a política do abandono, da terra arrasada. Quando o ministério do Meio Ambiente incentiva queimadas em áreas proibidas, por que o prefeito irá contra? Para perder acesso a repasses?

O governo Bolsonaro é caso perdido nas políticas públicas, temos visto isto há quatro anos. Tirou dinheiro de ciência e tecnologia, educação, saúde, cultura, esporte, lazer…longa é a lista. Investiu-se em soldos militares, armamentos, propaganda oficial, redes sociais mentirosas e outras mentiras e mais mentiras, a ponto de o povo não querer saber mais da verdade preferindo crer que o Brasil agiu certo na pandemia, que o governo agiu com presteza no auxílio aos que perderam o ganha-pão no isolamento social, que somos um bando de maricas e que Bolsonaro não é coveiro. A realidade mostrou exatamente o contrário.

Do desprezo pela coisa pública aos desmandos seguidos e contínuos, Bolsonaro imprimiu à máquina administrativa a lógica da destruição, na extinção de ministérios, secretarias, conselhos, no esvaziamento orçamentário e funcional de outros órgãos relevantes, culminando com corte total de verbas para bolsas de estudos já acertadas entre a CAPES e os bolsistas e o cancelamento de 40% das verbas da Farmácia Popular. Acabou também com a distribuição gratuita de absorventes para adolescentes carentes, enquanto comprava Viagra, leite condensado e picanha para os militares e perdoava dívidas de pastores escondidas na contabilidade das igrejas.

Ora, ao cidadão comum que pega remédio grátis no programa da Farmácia Popular ou se beneficia no auxílio emergência, salta aos olhos a inversão de valores, o erro criminoso de prioridades e o papel subalterno que lhe cabe neste governo, é natural que não levem ax sério o que se diz e faz e se murmure “que se dane, tanto faz” à medida que passa a boiada da desesperança.

E o Brasil que vimos no Catar é este mesmo, um dia se sai bem, no outro sofre, no terceiro apanha, no quarto se vinga e no quinto se despede sem qualquer sentimento de culpa, sem qualquer responsabilidade sobre o país. Não tendo nada a ver com Bolsonaro, Neymar toma seu aviãozinho e volta para casa na Europa. O gol dedicado a ele perdeu o sentido porque não é mais o presidente da república. Outros jogadores e o Tite se vão como nuvem de gafanhotos atrás de grana. Ganharão, mas sem o calor da torcida que agora torce é o nariz ao lembrar o desprezo com que foi tratada, com que é sempre tratada, como doentes à espera da vacina que um dia chega, “se Deus quiser”.