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Veja a luta travada pelos garis do Rio e o seu desfecho. Como aqueles trabalhadores invisíveis e tantas vezes desqualificados por aquela maldita frase “não estudou, vai ser gari”, ensinaram tanto a todos nós! Fizeram greve durante a maior festa popular da cidade, o Carnaval, e conquistaram o apoio da população. Expuseram as mazelas e contradições desta cidade, que se enfeita para os turistas, mas que trata tão mal os trabalhadores que a constroem e a mantêm com seu trabalho diário. Enfrentaram (sem medo de serem felizes!) a intransigência do prefeito Eduardo Paes e da direção da Comlurb, uma direção pelega, a qual estava contra a greve e a grande mídia, aliada do prefeito, que fez de tudo para desqualificar a greve. Lutaram e saíram vitoriosos!

Com o índice de 37% conquistado, o piso dos garis (R$ 1.100,00) passa hoje a ser maior que o piso de ingresso de um bancário que trabalha em portaria, contínuo ou servente (R$ 1.048,91) e bem próximo do piso de um escriturário ou caixa (R$ 1.503,32). Se considerarmos os 40% de insalubridade, o piso dos garis (R$ 1.540,00) supera os pisos de ingresso de muitas categoria, como a bancária.

Os garis se organizaram, fizeram uma forte greve, pedindo o apoio da população e conseguiram colocar a prefeitura contra a parede. Ela teve que negociar com o comando de greve,  que não era da uma direção sindicato.

Algo interessante foi o destaque dado à insensibilidade do prefeito, à sua tentativa de “ganhar no grito” e na violência, dispensando 300 garis, os quais teve que readmitir logo a seguir.    Ele afirmou: “são apenas 300 grevistas”. E essa mentira foi sustentada pela prefeitura e por boa parte da mídia. Como se a ausência de 300 trabalhadores da Comlurb pudesse explicar a paralisação dos serviços de coleta de lixo em toda a cidade. Isso sem falar na denúncia da mentira propagada aos 4 ventos de que esses mesmos 300 garis estariam impedindo que os demais 3 700, dispostos a trabalhar, pudessem assumir suas funções.

A inteligência, a sensibilidade e o estilo dos garis foi determinante, mas como negar os muitos tipos de apoio, a ação das mídias alternativas e, sobretudo, o clima que já tinha sido preparado pelos movimentos dos últimos meses? O professor Idelber Avelar foi bem preciso e emocionante em sua palavras, numa rede social:

“Eles enfrentaram: uma direção pelega, um prefeito truculento, uma das polícias que mais mata no mundo, o maior império de comunicação da América do Sul (que  dedicou três páginas inteiras de seu jornal a desqualificar a greve e puxar saco do prefeito) e as tradicionais milícias governistas, que disseminaram mentiras de todo tipo, como a de que a greve era ação de uma minoria de 300 pessoas.

E venceram! Obrigado, garis do Rio de Janeiro, por ensinar de novo o mapa da luta”

Mas o cientista social Gustavo Santana lembra algo interessante: o caráter racial dessa luta vitoriosa dos garis. Ele diz:

“Fico impressionado com os comentários que vejo na foto que apresenta em comparação o movimento dos garis com as passeatas dos estudantes de medicina contra o Médico para todos e mostra como o Brasil é um país desigual e racista. Tenho lido que a foto não mostra nada, que não há racismo no Brasil e coisa e tal.

Não há racismo? Os médicos são todos brancos e os garis todos negros? Isso caiu do céu? Deus quis assim? Que quem fosse preto nessa sociedade estivesse relegado aos extratos mais baixos do modo produtivo? Na verdade não, meu camarada! Os garis são todos negros e os médicos todos brancos porque em algum momento de sua história deste país brancos europeus escravizaram negros africanos e dele extraíram sua força produtiva e fizeram acumulação primitiva do capital econômico, capital este que deixaram de herança para seus descendentes brancos enquanto para os descendentes dos escravos sobrou a falta de escola, de saúde, de local de moradia e as vassouras, pás, enxadas, caixas de engraxate, colheres de pedreiro.”

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fotomontagem: Pedro Paulo Bicalho

 

Como disse o Repper Fiell: “Precisamos acreditar em nosso poder popular. Os GARIS mostraram isso na prática e chegaram a vitória. Agora é a nossa vez nas favelas, nas ruas Uma pauta, união, e luta. Já diziam os Mcs Cidinho e Doca:

“O povo tem a força só precisa descobrir, se eles lá não fazem nada faremos tudo daqui”.