Tiroteio nas favelas
Foto divulgação

 

Como uma pessoa que está fora da favela sobreviveria dentro de um intenso tiroteio?? Consegue imaginar? Vou tentar descrever em palavras, mas nunca será suficiente nem de longe como é na vida real.
Vamos começar pelo grande aglomerado de barracos e casas, como somos aqui, com tamanha densidade populacional, um grande ajuntamento de um ao lado do outro onde até a respiração do vizinho dá para ouvir, de tão junto que somos. É algo inimaginável pensar como é ficar horas e horas ao som das “metralhadoras” e o zumbido das cápsulas a cair no chão, o frio que sentimos na espinha ao sentir o perfurar nas paredes e o corre corre para se abrigar com urgência para não ser também um fácil alvo de uma “bala dita perdida”.
O grito desesperador das crianças, a impotência dos idosos sem poder correr com lentidão dos seus frágeis corpos cansados, a ânsia das mulheres grávidas no anseio de proteger a si e à vida que está em seu ventre, o pânico de quem está na rua por qualquer que seja o motivo, quer seja para estar no comércio, indo ou voltando da escola, brincando ou mesmo indo ou voltando do trabalho, é algo extremamente assustador…
Não sei se quem nunca passou por uma experiência dessa consegue sequer imaginar como é… Sentir os traçantes passar zunindo os ouvidos e ter que se jogar no chão, ver os projéteis transpassando telhados, perfurando carros, e muitas vezes nossos corpos também, é muito triste, rasga a alma de tanta impotência. O que se passa na cabeça de quem atira?? Em meio a tantos “escudos humanos”, como pode os governantes permitirem e deixar algo acontecer, isso em plena Cidade Olímpica, onde o mundo inteiro está com os olhos voltados para cá, como??
O estrago que estão causando em nossas vidas nunca será mensurado, não terá um balanço para descrever o número de pessoas que foram acometidas de doenças causadas pelo pânico de se encontrar literalmente no meio do fogo cruzado.
Estamos pedindo socorro, estamos morrendo e cada dia mais encurralados em meio a esses confrontos diários desmedidos e sem nenhuma regra de ambas as partes envolvidas; só pensam em si, em quem tem mais poder de fogo, enquanto nós os moradores estamos a mercê, se escondendo e sem saber como se defender, sem saber quando será o próximo confronto, quem será a próxima vítima.
Gostaria de fazer um apelo à Presidenta Dilma, ao Governador Pezão, ao Secretário Beltrame, por tudo que é sagrado que pode parar essa guerra aqui, olhem a situação dos moradores, do povo que está sofrendo, de nós que estamos doentes dos nervos, à base de tarja preta, quem pode comprar, mudem a estratégia, estão errando feio e quem está sofrendo somos nós.
Uma coisa afirmo e tenho propriedade para dizer, essa guerra não tem vencedores, só perdedores e os reais perdedores somos nós os moradores.
Escrevo esse texto em lágrimas, sentindo a pior dor que um ser humano possa sentir, impotência total de ver tudo isso acontecer aqui onde moro, sem nada poder fazer, apenas relatar isso tudo por aqui no anseio que alguém nos ouça, por favor!

Cleber Araújo – Morador do Complexo do Alemão.