Na hora do almoço, um amigo desabafa sobre sua ansiedade. Volto pro trabalho, e outro conta que “as coisas sempre estão mal”. No Facebook, graves desabafos se multiplicam. Vai dizer que ninguém tem um amigo ansioso ou neuroatípico? Todos temos. Somos uma geração doente?
O emprego que não vem, a faculdade que desestimula, o trânsito e os transportes públicos, aquele crush que não responde, o estágio que desvaloriza: talvez não estivéssemos preparados para tantas frustrações. Já a geração dos nossos pais parece que, aos 20, estudava, trabalhava, cuidava de dois filhos, um cachorro, alguns gatos, tinha estabilidade emocional, casa própria, um Palio e todas as séries em dia.
Há quem diga que, talvez, a culpa seja dos pais que mimaram um pouco mais, ou da vida dura que outros tiveram. Não, amigos. Passou o tempo de culpar a Lei de Murphy ou o ano de 2016. Somos nós mesmos. É aquela mania de procrastinar até o último momento ou achar que só o outro tem culpa. Em vez de nos empoderar, a liberdade de ser adulto faz com que vejamos o barco pegando fogo e não saibamos o que fazer. A angústia aparece e nem sempre sabemos/conseguimos remar de volta.
Aí a cobrança de estar bem sucedido e viajando pela Europa “pega pelo pé”. Precisamos trabalhar com o que gostamos, precisamos ter corpos perfeitos e muitos amigos. Nos sentimos cada vez mais sozinhos porque… Por que mesmo? Por que aquela tia sempre pergunta quando começaremos a fazer concurso público e já emenda nxs namoradinhxs? O desejo de estar “por cima da carne seca” fala alto dentro da gente. Não se pode falhar. Não se pode demonstrar fraqueza. Temos que ter a melhor vida, e caso não seja demonstrado no Instagram, não vale. Pedir desculpas não é cool, é ser otário. Pagamos de malandro. Nossa pose nunca pode se perder. Nunca.
Todo mundo tem uma teoria sobre tudo. Todo mundo tem opinião.
Eis a veia de uma juventude solitária.