Considerado esporte de elite, a esgrima está mudando as vidas de três pequenas promessas do Morro do Fubá, em Cascadura, na Zona Norte do Rio. Jhonatan, Anna Beatriz e Isabelly Gonçalves dos Santos são destaques na modalidade e, através da ONG Terr’Ativa e do apoio da Seleção Francesa de Esgrima, vêm quebrando barreiras e desconstruindo esse estereótipo.
Fundada por três franceses em 1999, a ONG Terr’Ativa atende a 40 crianças e 20 adolescentes, que fazem parte de projetos que buscam inserção social por meio da cultura, educação e do esporte. Um deles, o Esgrima Para a Vida, transforma hoje a realidade de uma família inteira. Jhonatan Gonçalves dos Santos, Anna Beatriz Gonçalves dos Santos, ambos com 13 anos, e sua irmã Isabelly, de 9 anos, chegaram lá em fevereiro de 2016, matriculados pela mãe, Marli. “Foi a forma que eu encontrei de ocupar o tempo deles, para ficarem longe de amizades ruins e drogas. Eles nem conheciam o esporte, mas eu os inscrevi e depois expliquei como funcionava”, conta ela.
As aulas ocorrem somente duas vezes na semana, mas a dedicação dos irmãos e o apoio de familiares e amigos é tão grande que eles fazem frente a atletas que treinam diariamente. “Sou eu quem levo, busco ou encontro com eles em algum lugar para levá-los aos treinos ou às competições. Participo de tudo, acho muito importante essa presença para mostrar que isso é sério”, ressalta Marli.
O resultado de todo esse esforço vem em forma de medalhas. Em abril de 2017, os irmãos participaram da sua segunda competição de esgrima, o Torneio Infantil da Federação de Esgrima do Rio de Janeiro – Anna Beatriz e Jhonatan já haviam sido medalhistas em novembro de 2016. Dessa vez, Anna foi prata na categoria Menos de 15 anos e Isabelly, bronze entre os Menos de 12 anos. Jhonatan levou duas medalhas para casa: ouro entre os atletas de menos de 15 anos e bronze dos Menos de 17 anos.
Esporte mudou até comportamento das crianças
O sucesso dos irmãos é um ingrediente a mais para que a ONG Terr’Ativa enfrente as dificuldades financeiras e continue com o projeto Esgrima Para a Vida. Embora criado no ano das Olimpíadas do Rio de Janeiro, ele só saiu do papel devido ao apoio de atletas da Federação Francesa, que doaram roupas, espadas e máscaras de primeira qualidade para que os praticantes estivessem bem equipados. O projeto Esgrima Para a Vida é uma parceria da ONG Terr’Ativa com a Sala de Armas Esgrima Castillo, situada no Grajaú Country Club, e o mestre de armas Cesar Castillo de Obadia, reconhecido pela Federação Internacional de Esgrima.
– O progresso incrível e os resultados impressionantes deles me motivam a cada dia mais para conseguir pagar as inscrições das competições, oferecer condições de treinamento e continuar alimentando o sonho de profissionalização e de chegar a Seleção Brasileira, como os irmãos almejam, revela a coordenadora da ONG Terr’Ativa Justine Laborde-Barbanègre.
Tanto Justine quanto Marli garantem que os resultados esportivos devem ser acompanhados dos educativos. Para isso a cobrança na escola é forte. “Têm que se esforçar para tirar notas boas, ir a todas as aulas, prestar atenção e se dedicar, principalmente, ao inglês e espanhol para terem um futuro diferente do meu”, conta a mãe, que confessa, em tom de brincadeira, que basta dizer às crianças que vai tirá-los da esgrima para que se comportem bem. Esse comportamento já mudou bastante desde que iniciaram a prática esportiva. “Estou mais calmo, era muito agitado”, confessa Jhonatan. Anna Beatriz concorda: “Aprendi a levar as coisas mais a sério, antes era tudo na brincadeira”.
Em janeiro de 2018, o Anna Beatriz, Isabelly e Jhonatan encontram o esgrimista francês Ronan Gustin, que vem ao Rio para realizar um estágio intensivo gratuito com os alunos da Terr’Ativa. Dessa forma, outros jovens podem ter contato com o esporte e, quem sabe, faturar a primeira medalha olímpica do esporte para o Brasil como sonham os três atletas do Morro do Fubá.
* Texto atualizado às 12h49.