Semana de intensas trocas, intercâmbios, debates, conexões e celebrações. Entre os dias 01 e 09 de julho, dois eventos estão movimentando o cenário da cultura comunitária e da comunicação popular: Cultura Viva nas cidades da América Latina, de 01 a 04 de julho, em Campinas (SP), e I Encontro Latino-Americano de Comunicação Comunitária, de 06 a 09 de julho em Niterói (RJ). Acabo de chegar do primeiro e estou me preparando para o segundo. Neste intervalo, acontece hoje, 05, o colóquio Latino-americanidades na Fundação Casa de Rui Barbosa, que reúne participantes de ambos os encontros, vindos de várias parte do Brasil e de países da América Latina.
Representantes de Argentina, Uruguai, Peru, Equador, Colômbia e México estão no país participando das diversas atividades, que incluem debates, oficinas, palestras, festivais, saraus, percursos e audiências. Participam também brasileiros, estudantes, pesquisadores, gestores públicos, legisladores, comunicadores comunitários e midiativistas. Ambos os encontros são atividades preparatórias ao III Congresso Latino-americano de Cultura Viva Comunitária, que acontece de 20 a 26 de novembro deste ano em Quito, Equador, e foram aprovados no edital de apoio a redes culturais do programa intergovernamental IberCultura Viva. A articulação em rede entre a Associação Nina, de Campinas, e a Agência de Notícias das Favelas (ANF) foi fundamental, aumentando o número de participantes internacionais, ampliando a programação e otimizando os recursos.
“Um espectro ronda a europa: o espectro do comunismo”, disse Marx no século XIX, na abertura do Manifesto Comunista. O teatrólogo boliviano Iván Nogales criou uma nova versão da frase, parafraseando o velho barbudo: “um fantasma vestido de palhaço ronda a América Latina, o fantasma da cultura viva comunitária”. As políticas culturais desenvolvidas no Brasil, em particular os Pontos de Cultura e o Programa Cultura Viva, inspiraram e influenciaram diversos países e cidades da América Latina, e hoje existem Puntos de Cultura como políticas governamentais na Argentina, no Peru, Costa Rica, El Salvador e agora no Uruguai. Importantes cidades latino-americanas, como Lima, no Peru, e Medellin, na Colômbia, desenvolvem políticas públicas de cultura viva comunitária, configurando um repertório comum para políticas culturais. No atual contexto politico, econômico e social tanto brasileiro quanto latino-americano, onde diversas conquistas das últimas décadas estão ameaçadas, mais do que nunca é necessário defender os direitos conquistados, conjugando o binômio cultura e democracia.
E no meio dessa intensa programação, compartilho uma importante conquista: a publicação de meu primeiro livro, Cultura Viva Comunitária: Políticas Culturais no Brasil e na América Latina, editado pela ANF Produções. O livro analisa a história das políticas culturais desenvolvidas no Brasil no século XX e nas primeiras décadas do século XXI. O contato que tive com as realidades culturais de diversos países, conhecendo e percorrendo experiências relacionadas ao Cultura Viva, em países como Argentina, Colômbia, Peru, Bolívia, Equador, Guatemala e Costa Rica, dão um caráter de registro e testemunho a um texto que reconstitui uma linha do tempo deste processo rico de integração da América Latina através da cultura, construído e escrito a muitas mãos e muitas vozes, de homens e mulheres que a partir dos bairros e das comunidades pobres de nosso continente, cultivam o presente arrancando alegria do futuro.