Duas bombas sacodem o noticiário na manhã de sexta-feira, 28, no Rio de Janeiro: o afastamento do governador Wilson Witzel pelo Superior Tribunal de Justiça e a decretação da prisão de seu “inventor” na política, o pastor Everaldo. presidente do partido que o conduziu ao Palácio Guanabara e um dos líderes da Assembleia de Deus em Madureira, em operação da Lava Jato no Rio de Janeiro. A PF também faz buscas contra a primeira-dama, o vice-governador e o presidente da Alerj, na apuração de supostos desvios nos contratos emergenciais para a Covid-19.
A expectativa no meio político e advocatício do estado é de um fim de semana movimentado como não se via desde os tempos de Sérgio Cabral e sua mulher mulher, a advogada Adriana Ancelmo. O governador Wilson Witzel pode ficar fora do governo por seis meses.
A lembrança do casal não e fortuita. A primeira-dama fluminense, Helena Witzel, também é advogada e está envolvida talvez até mais do que a outra nas trapalhadas do marido. Aliás, contra Witzel, uma das peças principais da investigação é um e-mail enviado a empresários orientado-os a firmar contrato de prestação de serviço com o escritório de Helena, através do qual eram feitos pagamentos de propinas que somavam R$ 60 mil mensais em parcelas de R$ 15 mil de quatro empresas com contratos emergenciais para prestação de serviços e fornecimento de produtos durante a pandemia do novo coronavírus.
A Polícia Federal amanheceu nas ruas hoje para cumprir mandados de prisão e de busca e apreensão contra agentes públicos, políticos e empresários envolvidos no esquema de desvios na saúde liderado pelo governador Wilson Witzel em crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, segundo a acusação. Além do presidente do PSC, Pastor Everaldo, já preso, estão na alça de mira o advogado Lucas Tristão, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico de Witzel, e o médico e ex-prefeito de Volta Redonda Gothardo Lopes Netto.
Há mandados de prisão também contra os empresários Mário Peixoto e os sócios Alessandro Duarte e Cassiano Luz, que já estão presos pela operação Favorito, realizada em maio.
A PGR sustenta que Witzel usou o escritório de advocacia da mulher para receber dinheiro desviado por intermédio de quatro contratos simulados no valor aproximado de R$ 500 mil – cerca de R$ 15 mil mensais de cada uma das quatro.
Os investigadores concluíram que Helena Witzel tinha casos praticamente inexpressivos antes de o marido tomar posse, em janeiro de 2019. Em seguida, quatro contratos com empresas ligadas a Mario Peixoto (três) e Gothardo Lopes Neto (um), ex-prefeito de Volta Redonda, passaram a render à primeira-dama R$ 60 mil mensais.
Um e-mail escrito por Witzel, apreendido pela PGR, orienta os interessados a redigir o contrato com o escritório de Helena. Chamou também a atenção dos investigadores a participação da primeira-dama em um processo de execução fiscal da família do médico Gothardo Lopes Netto, ex-prefeito de Volta Redonda e ex-deputado estadual, dona do Hospital Infantil e Maternidade Jardim Amália Ltda (HINJA), maior unidade de saúde privada do município.
O processo, que tramita na Justiça Federal de Volta Redonda, já tinha como advogado Lucas Tristão, ligado ao esquema, porém, no decorrer da ação, a primeira-dama entrou com uma petição para avisar que estava ingressando na mesma causa e passando a advogar para o hospital. É quando, segundo as investigações, passou a receber os R$ 15 mil mensais apenas por esse serviço. Não há nenhum outro documento no âmbito desse processo que tenha justificado o vultoso pagamento por apenas uma petição.
Quanto ao presidente do PSC, Pastor Everaldo, da Assembleia de Deus em Madureira, chefiada pelo Bispo Manoel Ferreira, projetou-se no meio político em 2003, quando se filiou ao pequeno partido e promoveu exponencialmente o número de deputados eleitos nas eleições seguintes.
Dono do partido, Pastor Everaldo encampou a candidatura de Witzel quando aparecia com apenas 1% das intenções de voto. Hoje se tornou um articulador da relação com o Legislativo do Rio. Com espaço amplo na gestão de Witzel, o presidente do PSC tem influência no Detran e ainda emplacou o filho, Filipe Pereira, como assessor especial do governador. Também é responsável pela indicação de Carlos Braz., filho de um obreiro da igreja para a diretoria do Interior da Cedae, responsável pelas obras da Chison.