Baleado em uma operação policial na Favela Santa Marta, em agosto de 1997, Wagner Marcos da Silva, hoje com 29 anos, aguarda julgamento da 1a Vara Criminal.

De acordo com o registro de ocorrência da 10a DP, Wagner foi surpreendido por policiais do 2o Batalhão numa localidade conhecida como Beco da Lua, na companhia de outros dois elementos que fugiram. Todos estariam armados e com drogas. Durante a troca de tiros, Wagner Silva foi atingido no abdômen e na cabeça por disparos efetuados pelo tenente Diniz. Como seqüelas, Wagner hoje caminha com auxílio de muletas e tem problema na fala.

Porém segundo versão apresentada pelo menor P.R.R, Wagner foi covardemente atingido. “Meu amigo estava indo para o trabalho. Parou para me cumprimentar e depois saiu correndo. De repente foi surpreendido pela PM que não hesitou em atirar”.

Uma das testemunhas, que não quis se identificar, contou que o tenente disparou três tiros numa vala e depois colocou a arma na mão dele. Em seguida, os policiais enrolaram seu corpo num lençol e arrastaram escadaria abaixo, o que causou diversos traumatismos como a perda dos seus dentes e da fala.

A via-crúcis da vítima continuou, foi internado no Hospital Miguel Couto, depois no Frei Caneca e finalmente no Hospital Penal Hamilton Augustinho Vieira, em Bangu, uma corrida que durou 2 anos, quando finalmente seu advogado conseguiu que o Juiz permitisse que Wagner respondesse o processo em liberdade.

A Anistia Internacional entrou no caso. O walkman que Wagner usava ficou caído no local, fato que causou estranheza à Anistia, que sabe não ser condizente a um soldado do tráfico distrair-se enquanto está em “atividade”.

O julgamento foi adiado por duas vezes porque o Ministério Público aguardava o exame de insanidade mental de Wagner. De posse do resultado que comprovou sua capacidade de responder ao processo, o caso foi enviado para a 1a Vara Criminal, onde será julgado por um júri popular.

O advogado de Wagner, o criminalista Nilo Batista, afirmou em entrevista à BBC de Londres: “não é incomum a polícia forjar situações como esta e colocar a arma na mão da vítima; desta forma após a ocorrência são premiados por bravura com aumento do soldo”( referindo-se a gratificação por bravura, que era dada a policiais pelo governo, por ocasião do fato). Para a irmã da vitima, Valéria Silva, o importante é que este processo tenha uma resolução rápida, para que minimize o sofrimento causado que já duram mais de 3 anos.

Daniel Pina – (daniel@anf.org.br)