Técnico de futebol cria projeto literário para incentivar autores negros e indígenas

Técnico Roger Machado - Foto Observatório de Discriminação Racial no Futebol

“Quando minhas filhas eram pequenas, eu procurava livros de literatura infanto-juvenil para elas, com autores e personagens negros, e tinha dificuldade e encontrar. Essa inquietação cresceu quando li o livro da Chimamanda Adichie, que fala do perigo da história única, como é prejudicial o país quando a história é contata só por um lado, o lado que detém os meios da produção do conhecimento”. A narrativa não parece, mas é do mundo do futebol profissional,de Roger Machado, técnico do Esporte Clube Bahia e idealizador do Projeto Canela Preta.

Roger pretende publicar ainda este anos 10 livros da coleção do Selo Diálogos da Diáspora que, graças ao financiamento do Projeto Canela Preta, chegarão ao mercado a preços acessíveis. Um livro de 200 páginas, por exemplo, vendido por R$ 40 vai custar R$ 15.

O projeto Canela Preta, tem a pretensão de lançar 50 livros em cinco anos. Essa iniciativa de Roger encontrou apoio no Grupo de Pesquisa Egbé, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da editora e o Grupo de Pesquisa Egbé.

“Menos de 10% dos livros publicados no Brasil são de autores não brancos e isso é um reflexo da exclusão no espaço acadêmico. Com a chegada de mais negros à universidade, fruto das cotas sócio-raciais, a gente está tendo maior produção sobre racismo, lutas contra desigualdade social, e a gente entendeu que era importante ter um fomento de produção editorial desse espaço”, diz Tadeu de Paula, doutor em Saúde Coletiva, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e um dos coordenadores do Grupo de Pesquisa Egbé.

O lançamento dos livros será pela Hucitec Editora, especializada em humanismo, ciência e tecnologia. O conselho editorial fará a curadoria para escolher, todo ano, ao longo de cinco anos, 10 obras preferencialmente de escritores negros e indígenas, com temáticas em Antropologia, Sociologia, Psicologia, Urbanismo, Direito, Filosofia, Letras, Pedagogia, Comunicação, Arte etc. A coleção também vai incluir literatura de ficção, poesia e saberes tradicionais, que são os conhecimentos que são produzidos fora da academia. Aí se encaixam mestres griôs, religiosos e das artes.

Roger Machado sempre tem se posicionado na luta contra o racismo dentro e fora de campo. É um dos integrantes do Observatório de Discriminação Racial no Futebol, que acompanha atos de racismo entre os profissionais do esporte.